2009-02-18

Quiz XXXII

"Italiana pode engravidar de marido em coma

Pela primeira vez em Itália, uma mulher ganha o direito a ser inseminada com o sémen retirado do marido, depois deste ter entrado em coma irreversível.

Uma italiana de 32 anos será inseminada, dentro de um mês, com o esperma extraído do marido, depois deste ter entrado em coma irreversível devido a um tumor cerebral (...).O caso, que veio a público uma semana após a morte de Eluana Englaro (que faleceu na semana passada depois de ter passado 17 anos em estado de coma), introduz um novo debate bioético na Itália e já motivou críticas por parte da Igreja Católica.

Alguns membros do Vaticano condenam a pretensão do casal, alegando que "um filho deve ser fruto de um acto de amor e não de uma experiência de laboratório". O ginecologista Antinori refuta as acusações da Igreja, dizendo tratar-se de "um acto de vida e de amor".

Além de controverso nas posições tomadas sobre a procriação in vitro e a clonagem humana, o médico italiano tornou-se famoso por ajudar várias mulheres na menopausa a engravidarem.

Em Itália, a lei de reprodução assistida permite o recurso a esta técnica apenas em caso de esterilidade. Situações como a deste casal levantam a questão da ilegalidade. Mas Severino Antinori contraria a tese, afirmando que o procedimento acontece "no limite da lei" e de acordo com uma ordem judicial."

in Expresso

Considero a posição do Vaticano paradoxal e incoerente perante o patrão. Confusos?
Então vejamos, se Maria, segundo as escrituras, concebeu virgem, sem dúvida Deus é o pai e percursor da inseminação artificial...

2009-02-17

darkest side of politics

Este caso do BPN tem posto a nú inúmeros factos e ligações que em nada prestigiam a política ou o regime. Apanhado no meio desta embrulhada toda, surge Dias Loureiro, em tempos homem forte do aparelho laranja e personagem ministeriável em vários governos.

Numa primeira fase negou e contradisse as declarações do vice-presidente do Banco de Portugal. Ouvido em Comissão de Inquérito, negou qualquer conhecimento de envolvimento do BPN [do qual era administrador] em qualquer negócio ilícito. No entanto, documentos tornados públicos este fim de semana, mostram a assinatura do dito autorizando os ditos negócios.


A ideonidade do orgão, do qual faz parte e goza com isso de imunidade, fica assim posta em causa. Se numa primeira fase face às graves acusações, a medida correcta seria o abandono do cargo [ele não pode ser destituído e o sempre zeloso Cavaco chegou mesmo a reiterar confiança no mesmo], face ao agora apurado é óbvio que Dias Loureiro não tem condições nenhumas para continuar no conselho.

Aliás ao manter-se no mesmo, aparenta quer continuar a gozar de imunidade, o que transmite ao país uma imagem de impunidade que não pode ser tolerada num normal estado de direito.


Provedor


Parece que muitos ainda não se aperceberam que uma das medidas necessárias à própria sustentabilidade do futebol indígena passa pelo crescimento de outros clubes fora dos habituais três. O ciclo mediático vicioso em redor dos mesmos [com todos os ganhos que daí podem advir], acaba em última análise por matar quaisquer tentativa sustentada de romper com tal status quo.


O argumento é que o público não quer. Que dizer desta notícia?

Couch Trip

Numa altura em que estão a entrar na sua 20ª temporada, esta aclamada e premiada série de Matt Groening [24 Emmys dizem tudo], aproveitou a passagem para o sistema HD para efectuar um refresh ao seu emblemático genérico.

Alguns elementos foram introduzidos, mas a qualidade mantém-se. O nome dispensa apresentações!

2009-02-16

A propósito da Venezuela, notas sobre o referendo...


"(...)Outro facto que ressalvou desta entrevista, foi a (demais conhecida) veia populista de AJJ. Nem falo pela postura de apelar directamente portugueses, falando com desdém da restante classe política, estabelecendo assim uma ligação de simpatia - explorando um sentimento comum ao português médio.
Falo da sua insistência na mudança, por referendo, de regras contidas na Lei Geral do país. Diz que não entende o porquê de estas não serem passíveis de mudança. Creio que não é necessário explicar a diferença entre a democracia representativa e a directa - Benjamin Constant no início do séc. XIX faz uma excelente analogia entre " A Liberdade dos Antigos comparada com a dos Modernos". Nem explicar o fim trágico que a República de Weimar teve e o autêntico plebiscito que levou Hitler ao poder. Ou demonstrar como o argumento da Lei das Finanças Regionais e o apelo ao voto de protesto contra Lisboa, inquinou e afastou qualquer tentativa de discussão de programa de governo (desconheci se o PSD-M apresentou algum), afinal o que estava em jogo nas regionais de 2007.(...)"

in desbobina [16-01-2009)

Chavéz mais 10 anos. Por cá Alberto João Jardim (AJJ), Mesquita Machado, Fernando Ruas, Valentim Loureiro e outros tantos caciques há bem mais de 20 ou 30 anos...nem me dou ao trabalho de referir a ironia da questão, nem aos similares métodos de captação de votos que são empregues.
Importa sim chamar a atenção para uma ideia defendida por AJJ, aquando da [espécie de] entrevista de Mário Crespo [que escrevi na altura aqui neste espaço - ler excerto em cima]. Queria alterar a constituição de modo a poder referendar príncipios contidos na Constituição da República Portuguesa (CRP). O ocorrido na Venezuela, serve apenas para exemplificar um de malefícios que daí poderiam redundar.

Mas não nos fiquemos por aqui. Permitam-me uma pequena nota antes da reflexão propriamente dita. Leio muitos clamores na imprensa e em comentários, contra este referendo de Chávez, quer criticando a validade do mesmo, quer criticando a insistência por parte do dito líder no assunto [é já uma segunda consulta popular sobre o tema].
Então que dizer do Não irlandês ao Tratado? Não estará em vista um segundo referendo? Não haverão, por parte da Comissão, inúmeros apoios, benesses e clausulas "opting-out" tendo em vista a captação do Sim irlandês? No fundo o princípio não será o mesmo?

Olhando ao escrito, importa antes mais, reflectir sobre o referendo enquanto mecanismo de consulta popular. Tenho para comigo que o mesmo é um poderoso instrumento de averiguação da vontade popular, transportando a decisão de um nível superior para um nível ao alcance real dos cidadãos.
No entanto, há que ter em conta que a aplicação do mesmo tem de respeitar certas premissas.

Em primeiro lugar, sou mais apologista do uso deste em matérias e questões locais ou municipais, isto porque cognitivamente e identitariamente as questões efectuadas estarão á partida ao alcance do eleitor comum [que recorde-se, por norma, apenas possuí um enfoque a curto prazo muito focado na sua perspectiva individual e dos seus que o rodeiam].

Em segundo lugar, as próprias questões que são submetidas a referendo têm de ser bem ponderadas e estruturadas para que possam ser compreendidas pelo eleitor. Isto, porque se este não perceber bem o alcance do que é referendado, corre-se o risco do mesmo poder ser aproveitado por certos sectores damagogicamente, ou ser instrumentalizado para a obtenção de algum fim [daí o cuidado com as perguntas, que paradoxalmente acabam por se tornar inteligíveis para o eleitor comum].

Acredito e aceito plenamente o referendo nacional em matérias de costumes. Acredito que a sua banalização enquanto instrumento de consulta popular em questões locais ou municipais, daria um importante acréscimo à natureza democrática da gestão municipal - para além do óbvio ganho em termos de aproximação eleitor-eleito, quer pelo "empowerment" cívico que se geraria.
Mas olhando ao que escrevi em cima, ao contrário do sr. Jardim, considero negativa a ideia de referendar normas constitucionais [no caso da regionalização torna-se um imperativo constitucional - vide artigos 255º a 262º]. Isto porque os eleitores comuns não iriam entender o alcance do que era proposto a referendo. O risco de instrumentalização e de manietação dos reais alcances do que era proposto seriam enormes, tal como se verificou na Venezuela.

Afinal é humano!


2009-02-14

Mário Crespo: Um ex bom jornalista...

1972, Mário Crespo (à esquerda) e o capitão (agora major) Mário Tomé



Na foto, substitua-se Mário Tomé por Alberto João Jardim -não tenho pachorra para fazer montagens- e essa será porventura a melhor metáfora imagética da entrevista da sic...



A propósito de um post abaixo publicado no desbobina, Mário Crespo assaltou-me o pensamento. O indivíduo está demasiado interveniente políticamente em relação ao que a matriz ética e deontológica do jornalismo o deveria permitir... E fá-lo, por um lado, catapultando ou servindo de rampa para certas figuras, como a abominável e cúmplice entrevista a João Jardim, e por outro lado, atacando inequívocamente Sócrates e os seus pares em artigos de opinião.

Pondo de parte o facto de eu próprio ser um acérrimo crítico de Sócrates e portanto até concordar em muitos pontos do artigo de Crespo, a verdade é que o referido artigo vem pôr a nú o jornalista e, com isso, certas atitudes e falta de profissionalismo recentes têm agora um enquadramento político evidente.

Lembro-me perfeitamente do clima de subserviência e adulação militar com que conduziu (ou melhor, com que foi conduzido) a entrevista a Jardim e, principalmente, aquelas constantes palmadinhas nas costas entre ambos. Agora parece-me evidente que Mário Crespo nada teve de ingénuo ao não colocar as questões verdadeiramente pertinentes na mesa...

2009-02-13

Liberdade de expressão à madeirense


"Artigo 37.º(Liberdade de expressão e informação)

1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei.
4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o direito a indemnização pelos danos sofridos."


in Constituição da República Portuguesa

Compare-se agora este este direito enunciado na nossa Lei Fundamental, com o pedido de identificação e morada com que foi confrontado um leitor do DN-Madeira e habitual redactor de missivas que saíam no espaço do leitor daquele matutino, após enviar uma outra missiva. À primeira vista e tendo em conta que o respectivo orgão [assim como outros como o Expresso, Visão, Sábado só para dar um exemplo] pede estes dados como questão de salvaguarda [assim é referido em letras minúsculas no fundo da página da secção em questão], nada pressupõe uma ilegalidade.

O problema é que estranhando a situação, efectuou uma ligação telefónica para o dito jornal e questionando o porquê de só agora pedirem os ditos dados [isto após o envio e publicação de muitas cartas], alguém lhe indicou que os mesmo se destinavam a serem compilados num ficheiro, isto porque o ministério público (MP) "tem andado a solicitar os dados de vários autores de cartas de leitor!"

Isto é inconcebível e assume contornos pidescos!. Olhando que por exemplo a anterior carta do senhor em questão visava e criticava a intricada questão do porto do Funchal, não custa adivinhar de quem são as queixas em questão. Bem sei que tem de haver um salvaguardar por parte do órgão de comunicação [afinal de conta a responsabilidade sobre o conteúdo da carta é do autor da mesma], ou a salvaguarda da honra de alguém que possa vir a ser ofendido, mas a compilação de dados das cartas mais "agressivas" e posterior cedência ao MP soa claramente a intimidação [sim, porque creio que o órgão é livre de os ceder ou não]. Isto quando claramente nem existem razões para tal e são motivadas pelo único facto de constituírem críticas ao poder vigente [tomando por exemplo a última carta]. Meus amigos, a isto chama-se prepotência.

Numa terra cujos níveis de intervenção cívica por parte da população deixam muito a desejar, este episódio ocorrido num órgão e espaço que acabava por ser uma espécie de escape da sociedade [para o bem e para o mal], acaba por ser bem representativo do asfixiamento "invisível" existente sobre as opiniões discordantes da maioria.

Juntamente com a calúnia [basta ver os mimos com que muitos são brindados na Assembleia, isto dando um pequeno exemplo] e destruição da reputação [ser objecto de queixa ainda que por difamação não é nada simpático] ou a autêntica "ostracização" económica e social [num contexto pequeno como o nosso], estas pequenas técnicas são demonstrativas do quão rarefeito está o ar político na região. Até quando?

Terminando, olhando ao verificado na assembleia regional - com um regimento que não não promove a efectiva promoção dos direitos minímos da oposição - será que caminharemos para uma interpretação regional muito "sui generis" do artigo com que comecei este texto?

post scriptum: [tendo em mente a contracção do mercado publicitário - obriga a procurar recietas para sobreviver] olhando dúbia negociação ocorrida com o Governo Regional a propósito do JM, o DN-Madeira sai muito mal na fotografia. É pena!

"Os olhos do mundo e a fortuna" - Review


Sábado, dia 7.

22h, Espaço Kabuki - Centro de Arte Contemporânea, sito aos Anjos. Ainda ofegantes [enganamo-nos na rua], chegamos à entrada que à primeira vista parece uma simples garagem, mas rapidamente revela nas paredes uma exposição de Alexander Arshansky - pintor russo radicado nos EUA que viveu no último ano em Portugal, sendo esta a temática desta exposição [quadros ver aqui]. Leigo na matéria, observo o jogo alegre de cores, o especial fascínio do artista por olhos, a anarquia que impera nas suas telas, assim como as influências [dizem os entendidos] de Picasso, Magritte e Boch. Gosto do que vejo - e desde já fica a minha recomendação para um programa grátis [a não ser que queiram comprar alguma tela...], em exposição até ao próximo dia 18 de Abril.

No entanto o objectivo da vinda [e do post] não é este. Aproveitando a dica deixada anteriormente pelo Pedro, ele próprio, eu e outras duas desbobinadoras [creil e ...], vamos assistir à peça "Os olhos do mundo e a fortuna" de Jonh Herbert.

Escrita no início da década de 60, estreada em 67, esta peça cómico-dramática [em parte autobiográfica] foca o ambiente de um reformatório juvenil masculino. É considerada pioneira, dado que foi das primeiras a abordar seu complexos a temática da homossexualidade, quer despindo certos preconceitos associados a esta, quer abordando o contexto dos reformatórios/prisões. Esteve na origem da constituição da Fortune Society, ONG de reinserção social de ex-reclusos.

Decorrendo num único cenário [a cela], revela-nos a história de um pacífico e ingénuo jovem condenado por delito menor [Smitty] que durante a peça se transformará num insensível e manipulador líder. No processo irá interagir com Rocky [o gabarolas e durão], com Queenie [abertamente homossexual, manipula o sistema em seu proveito], com Mona [sujeito passivo e sensível, é o típico elemento desenquadrado do meio onde está] e com Cara de Anjo [guarda corrupto que se encontra à beira da reforma].

Imbuída de um certo espírito "Actors Studio" [muito em voga em NY na década de 60], trata-se de um excelente texto [adaptada ao contexto português numa tradução efectuada por José Henrique Neto - faz de guarda], com uma excelente interpretação de todo o elenco - o já referido José Henrique Neto, João Vicente, José Redondo, Luís Redondo e Tomás Alves [grupo 3-sete-3] - bem acessorados na produção técnica pela Cena de Eventos [agrupamento a que pertence o desbobinador Pedro Costa - sonoplasta da peça em questão].

Importa realçar que esta peça já esteve em exibição no Teatro Mirita Casimiro (TEC), o Teatro da Trindade e o Espaço Karnart (onde foi escolha da semana da revista Time Out), notando-se um perfeito domínio do texto em questão.
Tanto que nem se deu pelo tempo a passar, fluíndo a peça rapidamente, ajudando em muito as passagens cómicas que a peça possui, sem no entanto deixar de se desviar da mensagem e apelo à reflexão que a mesma se propõe fazer.

Inserida num ciclo "Transgressão e Exclusão” - em conjunto com "O Beijo da Mulher Aranha" de M. Puig (1976), outra peça a apresentar dia 15 do corrente, num debate no mesmo espaço com actores e encenador - fica aqui expresso um interessante e diferente programa para dia 13 (hoje) e 14 de Fevereiro, com a recomendação positiva do Desbobina [pelo menos a avaliar pelas reacções de todos]. O texto e a perfomance valem a pena e é de aproveitar estas duas últimas exibições!

Às 22h no Espaço Kabuki - Rua Newton 10B - Metro Anjos.

Podem reservar bilhetes ou esclarecer alguma dúvida através dos seguintes números: 96.4464855 96.6864730

2009-02-12

Está bem... façamos de conta

Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos.

Mário Crespo

Façamos de conta que este governo não me assusta...
Pedro

banalidades

sol de inverno... Portugal no seu melhor quando nos encontramos numa praia, com 19 graus, com um livro que nos leva a outros imaginários. Podemos estar em qualquer lado. Mas não. Portugal seria perfeito, se não nos levasse de novo à realidade. Que o privilégio de estar a aproveitar o sol não fosse pelo facto da dificuldade de encontrar oportunidades laborais "segundo o nosso perfil" neste país.

Não acho que ir para fora seja o que realmente queremos, numa visão "ad eternum". Queremos ter a certeza que isso é o que queremos se quando estivermos daquele outro lado, possamos estar numa praia e sonharmos que o outro imaginário é Portugal. Que podemos voltar para Portugal, não de férias, mas para criar o nosso próprio mundo cá.

1809 - Uma boa colheita


Que têm em comum Louis Braille, Pierre-Joseph Proudhon [vide também aqui], Edgar Allen Poe, Felix Mendelsson, George Haussman e Nikolai Gogol [isto só para citar alguns]? Para além de terem deixado um impacto nas suas suas respectivas áreas, nasceram todos em 1809, celebrando-se deste modo o seu bicentenário.

A lista já é impressionante, mas se tomarmos em conta que neste presente dia se celebra o nascimento de Charles Darwin e de Abraham Lincoln, creio que o epíteto "excelente safra" pode ser bem aplicado a esse ano.

Darwin "apenas" forneceu uma explicação lógica e racional para a diversidade de espécies existente, com a sua teoria da evolução das espécies, base da Biologia Moderna. No entanto o seu legado transvasou o mero campo da Biologia, para muitas outras áreas, influenciando fortemente o pensamento científico desde então.

Lincoln [numa altura em que na Casa Branca está um presidente afro-americano que se revê nele], é simplesmente apontado como um dos melhores presidentes americanos de sempre. De humildes origens, destacou-se pelo papel preponderante na abolição da escravatura - facto que quase provocou um secessão e motivou uma Guerra civil - sendo também lhe apontado um brilhante e hábil exercício de poder, onde procurou aconsellhar-se junto dos seus adversários. O seu assassinato ajudou a conferir-lhe uma aura que se reflecte na importância que a história americana lhe [bem] atribuí.

Hoje no metro, vi uma rapariga a ler "On Natural Selection" de Darwin. Calculo que tenha sido propositado, mas não deixa ser uma boa maneira de celebrar o legado de um homem, cujo pensamento continua a ser válido.

Contigências do acordo

Com a ratificação em Julho último do Acordo Ortográfico, o jornal Record decidiu desde 1 de Janeiro, passar a editar os seus textos usando já as alterações previstas. Até aqui tudo bem [o motivo do post não é discutir se o acordo é positivo ou não].
Como certamente estarão a imaginar, isto iria mais cedo ou mais tarde, dar azo a títulos e cabeçalhos mais criativos [e parolos] que os habituais.

Pois bem, estava eu sereno a folhear o dito jornal [que diga-se de passagem por vezes consegue surpreender com autênticas pérolas], enquanto a nossa selecção jogava contra a Finlândia [dá para ver o interesse que o jogo suscitava], quando fiquei estático e tive de ler toda a notícia para me contextualizar, ao ver em destaque o seguinte cabeçalho numa notícia:

"TETOS SALARIAIS"

Priceless!

2009-02-11

Consulta aos Cidadãos Europeus 2009


Está a decorrer desde o passado dia 3 de Dezembro, uma iniciativa (na minha óptica muito válida) denominada "Consulta aos Cidadãos Europeus 2009", que visa como o nome indica, dar voz aos cidadãos europeus sobre o futuro da UE em matérias sociais e económicas, centrando-se em particular na questão "num vasto debate europeu sobre a questão: “O que pode a UE fazer para moldar o seu futuro económico e social num mundo globalizado?”.

Esta iniciativa, que se prolongará até 27 de Março de 2009, permite ao comum cidadão efectuar propostas e debater as referidas temáticas numa plataforma online constituída para o efeito. Daqui, sairão 10 propostas por país, que serão debatidas por 50 cidadãos escolhidos aleatoriamente por cada país nos dias 28 e 29 de Março. Posteriormente serão compiladas as 270 propostas existentes no cômputo da UE, sendo destas eleitas 15, que depois serão apresentadas na CIG aos chefes de estado.

As recentes adesões vieram por à prova as infraestruturas e a estruturação orgânica e administrativa da UE. Tornou-se imperativo [até agilização do funcionalismo das instituições] uma profunda reforma, numa organismo já de si muito pesado e burocrático e pesado, incorrendo numa espécie de autismo fechado sobre si próprio, sem tomar em conta os seus cidadãos.

Aliás, em muitos países, importantes passos na construção europeia, têm sido tomados sem haver uma efectiva legitimação dos cidadãos a esse propósito [ver aqui e aqui].

O princípio de subsidiaridade, ou a tomada de decisões a um nível mais perto do cidadão, fica assim gravemente prejudicado.

Esta iniciativa [a qual aconselho vivamente a participação e que em Portugal tem a parceria do IEEI], em meu entender, é muito válida dado que permite uma efectiva aproximação do cidadão comum, servindo ao mesmo tempo como de "european awareness" quer funcionando numa função pedagógica [na senda do que vem sendo feito], quer medindo o nível de conhecimento acerca da UE.

Post scriptum: Sobre a questão posta a debate na iniciativa, deixo isso para comentar brevemente...

Paradoxo e o sentido de oportunidade


"(...)Contra o stress, a crise, e o desemprego, participe e ganhe gratuitamente um pack de experiências relaxantes à sua escolha.

São centenas de opções, desde um Cruzeiro Romântico com Champanhe, a uma Massagem super relaxante, um passeio de Balão, ou até mesmo um dia num SPA..."

nota: mensagem recebida de um dos inúmeros portais de emprego. Simplesmente adoro o nicho de mercado escolhido e a maneira como vendem o produto. Não sei se me rio. É que a mensagem chega a roçar o ofensivo.

Se a moda pega...



Descontentes com o facto de já não receberem salários há mais de 3 meses, os jogadores dos Galáctico Pegaso [da 3ª divisão espanhola] resolveram realizar uma acção de protesto frente ao Real Madrid C [aproveitando o mediatismo deste]. Curiosamente este clube é o primeiro em Espanha que é gerido via web.

Afectado por uma grave crise [em parte devido à grande proximidade com um sector da construção actualmente em recessão], o futebol espanhol tem vindo a registar algumas acções de protesto originais [recordo o ajoelhar do Granada no início de um jogo, pelos mesmos motivos há semanas]. A situação ameaça mesmo grandes clubes como o Athletic Bilbao, Deportivo ou Valência só para enunciar alguns...

Olhando que muitos dos clubes deste lado de cá da fronteira vivem constantemente com a corda na garganta [não se coibindo de apresentar reforços por mais paradoxal que pareça], creio que já faltou mais para que protestos originais comecem a aparecer por cá. Já faltou mais!

Dar pérolas a porcos



"- Porque não vais ao cinema ver um filme?

- Achas? Ainda por cima apenas estão em cena filmes foleiros."


Diálogo [captado no metro de Lisboa] entre duas raparigas de não mais do que 16/17 anos. Estive a um pequeno passo de perguntar o que seriam para elas filmes "fixes". É que o cartaz em cena aparenta-me ser variado e de qualidade!

Post Scriptum: Vi o "Vicky Cristina Barcelona"[trailer acima]. Não tem a mestria de Match Point, mas não deixa de ser um bom filme [assente numa boa narrativa]. Nem que seja pelo beijo entre Scarlett e Penelópe. Ou a boa interpretação de Javier Bardem. Ou para quem já esteve na magnífica Barcelona para rever a cidade...Gostei!

2009-02-10

A fina linha entre um sonho e um ataque cardíaco


E saem uns diabetes para a mesa 1!
Ainda não está contente com um ou dois donuts estaladiços com creme e cheeseburger? Prefere um colestrol elevado ou um ataque cardíaco fulminante? Não se preocupe. Encontrará aqui neste autêntico catálogo, alguma aberração gastrómica que o levará aos píncaros...
[clique aqui - apenas para estômagos fortes - This is why you're fat - no sítio onde um sonho pode se tornar num ataque cardíaco]

2009-02-09

O mesmo do costume...



"Olha, o que te digo é que, apesar de ser sportinguista, fiquei mais indignado com a roubalheira a favor do FCP, no jogo contra o SLB, do que com a derrota do meu SCP frente ao Braga...
O que vi foi o Benfica a jogar bem melhor do que o adversário e até a dominar...
Só mesmo portistas fanáticos para defenderem a legitimidade de um penalty fantasma daqueles...
É ainda mais escandaloso por ter sido em frente ao árbitro, pertíssimo deste e com linha de visão absolutamente desimpedida...
Tenho a impressão de que quem viu o cartão de sócio de Pedro Proença era daltónico: afinal o cartão é azul e não vermelho...
Dário"

Será que devo ficar preocupado depois deste meu comentário? Devo estar com febre... Isto de defender o Benfica é contra-natura para um sportinguista de gema... No entanto é sintomático: só não vê quem não quer, quanto ao que se passou no derby de domingo!

Sempre disse e continuarei a dizer até à exaustão: O APITO DOURADO É UM PROCESSO IRRELEVANTE, INCONSEQUENTE E DE MERA COSMÉTICA!! Até poderão, eventualmente, ter cortado um ou outro tentáculo ao polvo, mas este continua vivo e a movimentar-se agilmente com os restantes tentáculos intactos...

O legado


"(...)uma linguagem sectária e um estilo trauliteiro ao estilo de Alberto João Jardim".

Luis Fazenda comentando as polémicas declarações de Augusto Santos Silva.

À parte de qualquer consideração sobre o teor das declarações, é curioso notar nesta frase o verdadeiro legado de AJJ após anos e anos de declarações desbocadas...

Ontem como hoje


"(...)devido à ignorância dos seus instintos primitivos, da violência das suas necessidades, da impaciência dos seus desejos, o povo inclina-se para as formas sumárias de autoridade. O que procura, não são garantias legais, das quais não faz qualquer ideia e não conhece o poderio; não é em absoluto uma combinação de mecanismos, uma ponderação de forças, das quais não sabe que fazer: é um chefe em cuja palavra possa acreditar, cujas intenções sejam suas conhecidas e que se devote aos seus interesses. A esse chefe, ele dá uma autoridade sem limites, um poder irresistível. O povo, olhando como justo tudo o que julga ser-lhe útil, tendo em conta que ele é o povo, ri-se das formalidades, não faz caso algum das condições impostas aos depositários do poder. Predisposto à desconfiança e à calúnia, mas incapaz de uma discussão metódica, não acredita em definitivo senão na vontade humana, não tem esperança senão no homem, não tem confiança senão nos seus semelhantes, in principibus, in filiis hominum [nos príncipes, nos filhos dos homens]; não espera nada dos princípios, que só eles podem salvar; não tem a religião das ideias.(...)"

P.-J. Proudhon [cujo bicentenário se comemorou em Janeiro] in "Do Princípio Federativo e da necessidade de reconstruir o partido da revolução"

O contexto pode ser diferente. Mas a Lógica do Pão e do Circo persiste!

O vidente


“É importante não esquecer que hoje o Porto tem um trunfo muito forte: o árbitro da partida vai ser Pedro Proença. E Pedro Proença é mais um daqueles árbitros que anuncia em público que é adepto do Benfica e depois passa a carreira a demonstrar a sua isenção prejudicando sistematicamente o clube. Para que Pedro Proença assinale um penalty a favor do Benfica é preciso que haja um homicídio na área adversária - e mesmo assim não há certezas. Para que assinale um contra o Benfica, basta que o vento agite a camisola de um adversário - ou nem isso.”

Ricardo Araújo Pereira e a sua [depois verificada e comprovada] previsão do clássico in "A Chama Imensa" [coluna semanal dominical n'A Bola].

2009-02-06

do alto dos seus 7.5 cm


Nascido no pós-crise petrolífera de 73, onde a palavra era controlar custos e gastos excessivos de petróleo em artigos de maior dimensão, desde a sua comercialização em 1975 que estes pequenos brinquedos criados por Hans Beck para o Brandstätter Group, têm vindo a cativar gerações e gerações de crianças [especialmente situadas na faixa etária dos 6-12 anos].

Falo pois claro dos afavéis Playmobil, brincadeira à qual não escaparam muitos dos que aqui escrevem (eu incluído), que no intervalo do futebol ou das intensivas explorações dos becos e terrenos que circundavam e componham a vizinhança, se dedicavam a construir durante horas autênticas cidades, com uma organização e estruturação que arrisco dizer, de fazer inveja a certas urbes portuguesas [ehe], fazendo com este brinquedo inúmeras experiências, direi mesmo de carácter sociológico, dada a multiplicidade de papéis, funções, profissões ou mesmo estratos sócio-económicos que atribuíam aos diferentes bonecos durante as brincadeiras [p.e. havia normalmente os ricos e os pobres bem reflectidos no detalhe com que se "compunham" as casas; havia normalmente uma grande panóplia de profissões; ou testavam-se assuntos aprendidos na escola - lembro-me de simular eleições e testar assim o sistema de percentagem dado na escola, isto estava eu numa 3ª classe].


De facto, reflectindo bem, o segredo deste brinquedo estará na combinação entre forma pouco complexa do boneco em si - criando um grande laço com a criança até pela imagem simpática da figura, conjugado ao mesmo tempo com uma grande flexibilidade e detalhe que eram/são fornecidos pelos cenários muito realistas organizados tematicamente, que foram/são constantemente adaptados ao longo destes anos. Isto, aliado ao facto de serem lançados imensos packs temáticos muito díspares entre si, faz com que este brinquedo se tenha tornado objecto de colecção ao longo dos tempos - sendo o arqui-rival do Lego.


Paralelamente toda a flexibilidade dos modelos em questão, foi aproveitada artisticamente, sob a forma de feitura de inúmeros clips e filmes, entre o qual o acima representado que cruza e inspira-se em diálogos do fantástico Pulp Fiction adaptando-os a uma criativa e blasfema Natividade. Mas poderão ver por exemplo uma recriação fiel do western "O Bom, o Mau e o Vilão".Ou a recriação do "Gladiador". Ou ouvir "Let it Be" dos Fab 4. Ou uma música de Clash. A escolha é imensa.

Com tudo isto, fica aqui o tribuno póstumo deste blog ao "Pai do Playmobil" - Hans Beck, falecido a 30 de Janeiro último, vítima de doença prolongada.

2009-02-05

Outra vez a história do café...



Do puro anonimato ao estrelato televisivo de nicho, eis aqui a consolidação e afirmação de um verdadeiro culto [clicar aqui para entrevista na TSF].

Para saborear ouvindo "o bicho que se tornou objecto de culto por todo o país". Como o Cornetto com a bolacha mole. E o café. Sim, o do Aires...

2009-02-03

A primeira-ministra da Islândia é lésbica, assumidamente. E isso interessa?

Toca o telefone. Atendo. É o Aires, companheiro e fundador do Bobina e Desbobina, aconselhando-me o Público de hoje. O suplemento P2.

Logo na capa, olhando-me do alto do cabeçalho, a referência a "Santa Joana" promete um momento único na história deste blog. Nas páginas 6 e 7, do suplemento P2, encontra-se o artigo "A primeira-ministra da Islândia é lésbica, assumidamente. E isso interessa?", de Maria João Guimarães, e ainda a procissão vai no adro e já temos a referência a um post antigo (link) do meu outro blog.

O tema pode ser polémico e o mero facto de se dar a notícia de ser a primeira vez que um político assumidamente homossexual chega à chefia de um Executivo de um país deu azo a discussão.
Por exemplo: mal o PÚBLICO colocou on-line a notícia sobre a possibilidade de Sigurdardottir ser a próxima primeira-ministra da Islândia e de ser esta a primeira vez que um político assumidamente gay ocuparia esta função, houve logo um bloguista que criticou o jornal, questionando a menção da vida privada da política (o blogue chama-se Nem vale a pena dizer mais nada).
Um comentador contrapôs, em resposta ao comentário do blogue, que o facto de uma mulher assumidamente homossexual chegar pela primeira vez à chefia de um Governo era notícia, tal como o foi o facto de um negro chegar pela primeira vez à presidência dos EUA.

O que este artigo traz de novo, e sem dúvida de mais interessante, em relação ao anterior é a forma como ele é articulado em torno da história política das lutas dos homossexuais pelos seus direitos, e não tanto da referência a apenas uma pessoa.

Para se ter noção do que isto representa, pode olhar-se para o panorama europeu de políticos abertamente gays: desde 2001, há três presidentes de câmara, dois na Alemanha (os presidentes das câmaras de Berlim, Klaus Wowereit, e de Hamburgo, Ole von Beust), e um em França (Bertrand Delanoë, presidente da Câmara de Paris).
Delanoë - que é agora considerado um possível candidato às presidenciais de 2012 - foi atacado em 2002 por um homem que disse odiar "políticos, o Partido Socialista e homossexuais".

Apoiando-se noutros casos como o de Bertrand Delanoë - o qual tive a oportunidade de acompanhar o trabalho municipal enquanto estive em Paris no último ano - e na biografia possível da reservada primeira-ministra Sigurdardottir é nos apresentado um retrato apoiado em exemplos desta luta política pela verdadeira igualdade de oportunidades.

Mas, este artigo tem outro aspecto que é fundamental realçar: a forma como os blogs têm cada vez um lugar de maior destaque na imprensa escrita. Chegando mesmo a promover ou direccionar, mesmo que indirectamente, linhas editoriais. Elogie-se, por exemplo, o facto do jornal o Público ter uma pequena secção Blogues em Papel, onde são retiradas ideias-chave de blogosfera portuguesa.

Em suma, como Maria João Guimarães realçou logo no início do artigo este assunto pode ser polémico... E é... E continuará a sê-lo muito depois da tomada de mil e um primeiros-ministros homossexuais, porque Portugal continuará religiosamente a ser um país homófobico, onde se escondem conservadorismos por detrás da eterna justificação "a nossa cultura é assim/a nossa cultura não é assim" (riscar a que não interessa).

obs: no espaço de uma semana o jornal Público soube mostrar que tanto se pode fazer jornalismo de referência como o oposto... basta escolher o ângulo correcto para uma notícia.

Mediação: Porquê recorrer a ela?

Quantas vezes tiveram um conflito com alguém, e para não haver discussão passaram à frente? E quantas vezes após esse pequeno desentendido veio outro, tornando-se, por vezes, numa bola de neve? E quantas vezes se chatearam com alguém sobre uma situação em que não se justificava tal alarido, e que perceberam que não tinha a ver com aquela situação em específico, mas com uma acumulação? E quantas vezes, ao resolvê-lo calmamente, perceberam que a dimensão do problema era muito menor, e que tratou-se apenas de mal-entendidos ou de diferentes pontos de vista? E quantas destas situações acabam em tribunal?

Pois é...mas existe um sistema alternativo de resolução de litígios ou conflitos.
À parte de todo o dispêndio de tempo e dinheiro que o tribunal oferece, a mediação é um processo mais económico e rápido que qualquer pessoa pode recorrer.
Inicialmente, a mediação apareceu apenas como forma de desentupir os tribunais. Hoje, é vista como uma alternativa que apela à responsabilização social na resolução de conflitos, visto que o mediador não tem o poder de sugestão, nem tão pouco de decisão, tal como acontece com o juiz.

Estranho? Confuso?

A ideologia da mediação defende que os participantes têm o poder de decidir qual a melhor solução para o problema que é deles; e que eles, melhor do que ninguém, podem verbalizar as suas necessidades, tantas vezes não atendidas em tribunal.

Em suma, na mediação apela-se ao diálogo e a um tratamento exaustivo dos relacionamentos, de forma a que as partes possam compreender-se mutuamente. Após essa compreensão e sensibilização, a dimensão do problema começa a diminuir cada vez mais, e os participantes abraçam o problema não como meu, mas como nosso, e em conjunto tentam chegar à solução mais adequada para eles.

Nâo é conciliação, não é terapia, não é direito, não é psicologia.
É mediação. É capacitar as pessoas a atenderem ao problema como parte de um todo, a compreender o outro lado, a fazer-se entender, e a encontrar a solução mais justa e melhor para si.

2009-02-02

Superbowl show!



Não sou grande fã deste tipo desportos, mas ha-que admitir.. grande jogada com uma pitada de polemica no fim, mas graças ao jogador que surge por tras, James Harrison não toca na zona verde ao ser derrubado e faz touch down com a cabeça... :)

Janet Jackson, volta, estás perdoada.

Imagino que toda gente se lembre mais ou menos bem do incidente com o mamilo de Janet Jackson no intervalo da SuperBowl de 2004: um aparentemente ingénuo acidente com o figurino da cantora expôs-lhe o seio direito, às mãos de Justin Timberlake. O Céu caíu. A decência Americana fora irremediavelmente abalada e mais de meio milhão de pessoas fez queixa à FCC (Federal Communications Commission) numa vã tentativa de amenizar a ferida aberta na sua moral. Até a campanha presidencial desse ano foi sensível ao acontecimento e a direita pegou neste estandarte como exemplo da indecência a que o país estava entregue (quem sabe se não terá contribuido para a reeleição de GW, já que 20% dos eleitores declarou que a moralidade foi a sua principal preocupação ao escolher o candidato?).

Pois bem. Já há muito aprendemos a esperar sempre mais e melhor da Grande Águia.
Este ano, durante a transmissão da Super Bowl na área de Tucson, Arizona, a emissão da Comcast, maior empresa de Televisão por cabo americana, foi interrompida e substituida por um clip porno, com direito a genitália em grande destaque. Não será um evento tão monumental como o mamilo negro, mas ganha pontos pelo avanço histórico, tendo em conta que aconteceu em pleno Domingo à tarde, naquele que é o momento televisivo mais visto dos Estados Unidos, por todas as idades.
Como não havemos de gostar daquele país?


clássicos da música portuguesa


Irmãos Catita - Putas em Portugal e no Mundo

2009-02-01

Cena de Eventos

Venho dar a conhecer um novo projecto que junta várias pessoas ligadas ao mundo do espectáculo que essencialmente trabalha com um único objectivo, criar espectáculos. Somos nós que construímos o cenário, fazemos o som e a luz, fabricamos os adereços e os figurinos. Não fazemos distinção entre o actor, o encenador ou o técnico, não temos vedetas...
Aproveito para divulgar as nossas produções e para pedir a todos os desbobinadores e frequentadores deste espaço de tertúlia desbobinante que apareçam e que nos ajudem a divulgar o nosso trabalho.

A nossa próxima apresentação chama-se "Os olhos do mundo e a fortuna" de John Herbert.

Fortune and Men’s Eyes (título retirado do Soneto XXIX de Shakespeare) lança um olhar cru, por vezes amargo, por vezes divertido, sobre a brutalidade física e moral num reformatório masculino. Foca a transformação de um jovem essencialmente não criminoso e até um pouco ingénuo, que cumpre pena por um delito menor, num revoltado ainda mais insensível e cínico do que os companheiros de cela. Estes são três: um deles manhoso e gabarolas; outro, homossexual assumido e escandaloso quando lhe convém, que manobra o sistema em seu proveito; e o terceiro, um rapaz meigo que aprendeu a separar corpo e consciência para ir sobrevivendo. A peça, em parte autobiográfica, trouxe a fama a John Herbert. Estreada em 1967 e levada à cena em mais de 60 países, é das poucas obras dramáticas que de facto obteve impacte social directo e duradouro. Por um lado, deu um contributo pioneiro para acabar com as caracterizações estereotipadas de personagens homossexuais. Por outro lado, levou à fundação daFortune Society , uma organização sem fins lucrativos que há 40 anos se dedica à reinserção social de ex-reclusos. Esta versão, embora adaptada à realidade das nossas prisões, não pretende ser documental. Interessa-nos a cela como metáfora, como microcosmo em ambiente de estufa das relações humanas em geral e das relações de poder em particular; interessa-nos tentar perceber as diversas estratégias deliberadas ou inconscientes que se desenvolvem para conviver, sobreviver e preservar alguma dignidade quando o sistema instalado é corrupto e brutalizador; interessa-nos a fragilidade e raridade da compaixão e da ternura.

Esta peça estará em cena nos dias 6, 7, 8, 13 e 14 fevereiro sempre às 22H
no espaço KABUKI - Rua Newton 10B - Metro Anjos.
Podem reservar bilhetes ou esclarecer alguma dúvida através dos seguintes números:
96.4464855 | 96.6864730


Eutanásia:

A eutanásia é a "falsa solução para o drama do sofrimento", tratando-se de um acto "indigno do homem", afirmou o Papa Bento XVI durante a oração do Angelus, na praça de S. Pedro, no Vaticano.
E pergunto-me..."o drama do sofrimento?". Classifica-se o sofrimento como drama?
E remata "A verdadeira resposta não pode ser proporcionar a morte, por muito suave que ela seja, mas sim testemunhar amor para ajudar a enfrentar a dor e a agonia".

Sinceramente, e conote-se este post como um desabafo, não tenho nada contra a igreja e até acho que muitas vezes essa fé fortalece as pessoas e dá-lhes razão para ultrapassarem as diversas situações que a vida proporciona.

Mas também acho que há limites. A história de que sofrer faz parte, ao exemplo de Jesus, quase que para justificarmos a nossa presença e vida na terra, tal como o nosso espaço no Céu. A nossa existência limita-se a muito mais do que isso.

Esse sentimento extremo de culpa que muitas vezes a igreja impõe e defende como louvável, acaba por ser ridícula.