2009-10-30

Inglês em sotaque madeirense? Será?...

Uma União de excepções?




A UE aceitou as exigências do governo checo, levantando nova excepção na aplicação da já controversa Carta de Direitos Fundamentais, um documento anexo ao Tratado de Lisboa, á República Checa.

Tendo em conta que já existem diversas excepções negociadas - Reino Unido, Irlanda, Polónia, Dinamarca enumerando meramente algumas - a questão que se levanta é: com a ânsia de atingirmos uma suposta unidade, não estaremos a caminhar para uma autêntica União de excepções?

É que esta decisão, que claramente serve para salvar a face ao eurocéptico presidente checo que assim sai também "vitorioso" perante a sua opinião pública, aparece na senda de outras, onde face a certos percalços que foram aparecendo, efectuaram-se concessões, que em certas alturas desvirtuaram e atrasaram imenso o trilho preconizado - relembremos por exemplo as consequências da cadeira vazia de De Gaulle e as consequências que daí advieram para a então CEE (pensada numa matriz federalista, adquiriu uma componente intergovernamental).

Esta situação vem demonstrar que embora estejamos já num nível muito avançado de integração, a lógica nacional tem ainda imensa preponderância, o que numa Europa (leia-se União) que nos últimos anos registou um crescimento exponencial, pode representar um obstáculo extra, dada a multiplicidade de interesses nacionais divergentes que tornam muito difícil vir a ter um discurso comum.

A aprovação deste tratado [mesmo que muitos não concordem com muita da sua matriz ideológica] é algo que é muito premente e necessário, face à indefinição ainda vivida, numa altura em que as consequências do anterior alargamento ainda se fazem sentir. A governabilidade da União enquanto estrutura e a própria credibilidade enquanto unidade de voz própria no Mundo dependem desta agilização. Mas não deixa de ser um paradoxo, que a mesma esteja a ser conseguida sob um vasto rol de excepcionalidades que são facultadas aos seus Estados-Membros. Não haverá o risco de abertura de nova caixa de Pandora que volte a pôr em risco todo este imenso edifício? Como conter ou compensar os países que já aprovaram o Tratado? Não estará a UE a enviar um mau sinal, persistindo em premiar quem mais entraves põe?

Porventura a beleza desta construção advirá daí, desta capacidade de diálogo e mutação, dirão alguns. Mas não deixam de ser questões que mais cedo ou mais tarde muito provavelmente serão levantadas. As dimensões nacionais existentes certamente não deixarão que isso passe em claro. Parte da resposta passará por uma conveniente pedagogia junto das opiniões públicas. A construção europeia tem de sair dos gabinetes das elites decisoras e tem de descer ao nível do eleitor comum. Este tem de sentir que esta é uma conquista dele. E enquanto este trabalho não for feito, enquanto este trabalho não for sentido como conveniente, muitos destes problemas subsistirão. Essa é a dura realidade.

Terminator IV: O Governador de Neverland.




"Arnold Schwarzenegger ainda não comentou o caso, mas a verdade é que a nota utilizada para exprimir o seu veto político à lei 1176 da assembleia legislativa do estado da Califórnia parece ter uma mensagem oculta pouco delicada: "fuck you".

A "f-bomb", como lhe está a chamar a imprensa norte-americana, foi noticiado pela edição online da edição electrónica do San Francisco Bay Guardian. Na nota, Schwarzenegger lamenta que muitos temas que considera prioritários, como a reforma da água e do sistema prisional, bem como dos cuidados de saúde, fiquem perdidos na assembleia, enquanto outros tópicos menos urgentes passam por ele com frequência.

"Mais uma legislativa passa sem que os californianos recebem as reformas que merecem", escreve. O tom agressivo faz com que a mensagem paralela pareça ter sido pensada de propósito - a primeira letra de cada uma das sete linhas do texto, devidamente alinhadas, forma a palavra "fuck you".

O assessor de imprensa do governador Aaron McLear insistiu já que ter-se-á tratado apenas de uma "estranha coincidência".


Se a moda pegasse por cá, queria ver que tipo de criatividade que seria empregue em acórdãos. No entanto, reconheço que é difícil ser mais pueril que isto [que chega a ser cómico, tão criança que é], com a desculpa esfarrapada que foi coincidência - já calcularam e verificaram que as probabilidades de tal acontecer como aconteceu eram de 1 para 8 mil milhões [fantástico como alguém se deu ao trabalho de calcular estas probabilidades!!!].
Mas vindo do homem que disse que a coisa mais difícil que fez na vida foi depilação total, cujas palavras mais conhecidas são "I'll Be Back" e "Hasta, la Vista Baby!" creio que poderemos esperar tudo.

Notícia original - aqui.

Imagem: schwarzenegger-interactive.com

2009-10-29

Por Toutatis...




...Chegaram aos 50 anos! A par de Lucky Luke, das séries que mais gozo me deu ler (sempre gostei da escola franco-belga). Criados por Uderzo e Goscinny surgiram na revista Pilote a 29 de Outubro de 1959, estando neste momento traduzidos em 83 línguas e 29 dialectos. O paralelismo estabelecido com certas situações históricas (lembro-me do Grande Fosso e a questão do muro de Berlim) e os estereótipos criados são simplesmente geniais e ficarão para para todo o sempre.

O tempo é de festa ( sem o bardo) e honra aos já cinquentões irredutíveis gauleses que ousam resistir ao invasor. E que com a ajuda da poção sempre assim farão. A não ser que o céu um dia lhe caia em cima.


imagem: Visão Júnior

2009-10-27

Banksy vs Bristol Museum




As seen so many times, as time passes, anti-establishment figures sometimes end up becoming part of the Establishment. It's almost a natural law.

Does it apply to Banksy?

The Timbuktu Job by Banksy



Na arte de rua onde o activismo e o anti-establishment proliferam, chamadas de atenção para temas como as disparidades existentes e a falta de atenção que o mundo ocidental presta ao continente africano, são consideradas banais e existentes em qualquer grande urbe ocidental. Mas e se essa chamada de atenção tiver sido feita em África num contexto que não associamos propriamente ao dito conceito artístico?

Foi o que Banksy efectuou. E provavelmente despertou mentes. Por uma coisa é ver numa parede qualquer num contexto urbano familiar, outra será ver num contexto envolvido pela realidade que a mensagem pretende alcançar. Aqui numa missão a Timbuktu, cidade património mundial parcialmente engolida pelo Saara, no Mali.

restantes imagens in Banksy.co.uk
Justificar completamente

É notório que desde o 25 de Abril tem havido uma certa cristalização da classe política, isto olhando aos principais intervenientes.

Com a revolução e os respectivos saneamentos ocorridos [algo inerente a todas as revoluções] e a rápida emergência de uma jovem classe de políticos (muitos ainda idealistas) que em condições normais iriam estar em "maturação" durante mais algum tempo, como que se assistiu a um perpetuar de certas figuras durante todo este espaço tempo, dando pouco espaço à renovação de caras e à emergência de novas figuras no panorama político português - se bem que reconheça que esta esteve sempre presente.

Sabendo-se que a construção e consolidação da democracia foi efectuada e gizada num quase monopólio dos partidos políticos - os outros espaços de participação pouca influência tiveram/têm - o carreirismo e a ascensão no aparelho burocrático partidário tornaram-se norma, muito contribuindo para tal noção de cristalização.

Se olharmos para as anteriores legislativas de 2005, notamos que das principais figuras dos 5 partidos mais votados de então, 4 concorreram a estas legislativas.

Por um lado, embora a generalidade da população tenha um discurso que aponta para um certo cansaço da classe política, a verdade é que a pouca memória eleitoral e a constante reinvenção de muitos políticos de cá do burgo, fazem com que aos olhos do eleitorado os mesmos políticos de sempre apareçam com novos discursos e novas roupagens.

Fará quinta feira duas semanas que um novo plenário da Assembleia da República tomou posse. O leitor ao ler esta frase, porventura pensará que falarei dos cerca de 105 novos deputados existentes em relação à anterior legislatura. Em parte estará correcto, mas o que me motiva a escrever estas linhas, foi observar que na maioria dos casos, foram regressos de pessoas que já haviam estado naquela casa ou entanto de pessoas que almejavam conseguir lugares ministeriáveis (o João de Deus Pinheiro foi sintomático).

Se a nível legislativo esta mudança era lenta, então a nível autárquico esta é praticamente nula, criando-se e gerando-se autênticos dinossauros fossilizados em muitos casos há décadas nos seus redutos, algo que a lei de limitação de mandatos veio alterar - algo que obrigará a uma efectiva mudança de presidente em mais de 150 concelhos nas próximas autárquicas.

No entanto, estaria a errar se não apontasse a existência muitas caras novas. E isto porque os sinais de mudança começam a aparecer e lentamente, esta classe política saída da revolução e em seguida das décadas de 80 e 90, começa a dar lugar a outros, abrindo brechas para uma efectiva renovação de caras, o que espero, traga novas formas de aproximação e envolvimento com os eleitores.

post scriptum: É com esse espírito que, concretizando a segunda intenção destas minhas palavras, venho aqui congratular a entrada na Assembleia da ex-colega e amiga de muitos que aqui escrevem [ainda que a grande maioria divirja politicamente da mesma], a nossa cara "camarada" Rita Rato - que tem estado em destaque em muitos meios de comunicação social. Da minha parte e ainda que não concorde com muitas das ideias defendidas e aparte da discussão das mesmas [existem sempre pontos de contacto], apenas desejo as maiores felicidades e desejo que coloque toda a paixão e capacidade de trabalho que lhe são reconhecidas.


2009-10-26

street wisdom



Marcelo reiterou ontem que não tinha ambições de voltar a liderar o PSD. O que é visível ao comum eleitor é que caso houvesse vaga de fundo, a opinião certamente já seria diferente. No entanto, está correcto quando enuncia a existência de uma profunda balcanização no PSD.

Enquanto não houver uma definitiva definição ideológica do partido, o partido não conseguirá fugir ao actual estado. Estará disposto a efectuar os naturais sacrifícios requeridos para tal?



Alienação ao quadrado


Sábado vi uma mulher com uma tatuagem no ombro com o símbolo da Herbalife!

Se bem que em parte tenha ficado surpreendido pelo facto da tatuagem versar sobre aquele produto em si [se bem que sabendo-se como funciona a dita organização, manifestações como esta não me surpreendam], reconheço que fiquei a pensar sobre a real influência das marcas nos dias de hoje.

Relembrei-me de um livro que li faz uns anos - No Logo de Naomi Klein (para muitos a bíblia do "neoanarquismo"). Aí é demonstrado que desde sempre houve uma tentativa de separação da marca do produto em si. Ou seja, uma marca mais que um produto, sempre pretendeu almejar e atingir um patamar de conceito próprio representando uma dada característica. Ou seja, mais que mera representação iconográfica de uma empresa associada ao fabrico/venda de um produto, o paradigma mudou para um ideia em que essa marca marque as tendências e represente emoções e modelos a seguir por parte da sociedade, procurando esta fidelizar a pessoa.

Daí que as ditas marcas invistam muito mais na criação do dito conceito e na repercussão da sua imagem, que no desenvolvimento dos seus produtos [vide Nike].

Sabendo-se que a sociedade tal como o Estado é uma construção cumulativa de experiências, tradições, normas de uma dada população num dado espaço geográfico, tendo em conta o elevado patamar de trocas e interacções proporcionado pelo actual estado de globalização, desempenhando as grandes marcas um papel fulcral na repercussão de comportamentos cada vez mais homogéneos a nível mundial, não estarão as marcas a ocupar o lugar anteriormente ocupado pelas religiões e instituições semelhantes? Olhando à progressiva ocupação do espaço, ao progressivo bombardeamento de imagens e conceitos olhando a públicos cada vez mais jovens - cativar possíveis consumidores desde tenra idade, provocando uma efectiva redução de escolha e o fechar de hipóteses - a lógica das sinergias em parte visa esta ideia, que consequências provocarão a nível de comportamentos toda esta overdose mercantil?

Não ocorrerá o risco de haver a curto-médio prazo uma alienação de valores ao sabor da lógica perene das marcas - que estão sempre em constante mutação até para efeitos mercantis? Será que assistiremos a uma progressiva homogeneização com a progressiva erosão de lógicas e tradições locais?

Como conter os aspectos negativos da globalização, sabendo-se que a mesma não pode ser contida e é imparável?

Será toda esta subversão tremendamente imparáveis, ou estarei meramente a escrever um post em tom alarmista, quando não há razão para tal?


foto: D*Face



2009-10-24

Amor e Sexo: a irreverência da questão.




Será o amor mais irreverente que o sexo nos dias que correm? Creio que esta questão poderá constituir um bom ponto de partida para estas breves linhas, onde pretenderei discernir um pouco sobre a temática amor vs sexo.

Antes de mais, a opção por este tema não é inocente. Será precisamente o tema que abrirá a 3ª série de programas do "Irreverência" na RTP-Madeira, programa produzido e apresentado pelo Jorge Gabriel cá do burgo, o nosso Desbobinador Tiago. Celebrando tal facto e prestando a minha homenagem ao trabalho produzido - os constrangimentos para levar por diante tal feito porventura serão maiores do que se possa imaginar - venho por este meio escrevinhar meia dúzia de linhas acerca do programa, além de efectuar a devida publicidade ao mesmo [que acontece aos sábados às 19h15, podendo ser acompanhado online ou visualizado depois via sítio da RTP].

Feita esta declaração, confesso que a primeira ideia que me ocorreu acerca do tema, seria considerar que a diferença entre os dois conceitos era a obrigatoriedade entre ter que gastar dinheiro antes num jantar - leia-se amor - ou não efectuar isso e passar logo para a acção - leia-se sexo. Mas mesmo dissecando a graçola [que agora que acabo de a ver escrita nenhuma graça acho], permite-se logo depreender a perspectiva erótica que a palavra amor tem e a sua relação com a libido.

De facto, creio que um bom ponto de partida para analisar esta questão, seria compreender o verdadeiro sentido de ambas as palavras, da qual destaco pela sua complexidade a palavra amor.

De facto, há vários prismas pelo qual é usada a palavra. A própria construção e evolução etimológica da palavra atesta bem toda esta complexidade. Segundo a Wikipédia - que para leigos na matéria é um bom ponto de partida - os gregos separavam o amor e distinguiam-no sob várias perspectivas. Importa realçar aqui a componente "Eros" - desejo sensual/atracção e contemplação física e a componente "Agape" - amor ideal e puro/platónico.

Na Roma Antiga, o termo condensa estas duas perspectivas na palavra "Amare" termo ainda hoje usado seja num sentido afectuoso e romântico, seja num sentido meramente sexual.

Daí que, e tendo em conta as origens e evolução da nossa língua, essa dualidade ainda se reflicta quando pronunciamos a palavra amor.

Feita esta pequena [ok...longa] explicação, como explicar a relação entre amor na sua componente "eros" e sexo? Fará sentido a existência de tais conceitos numa época de plena dessacralização do sexo? Numa época em que os constrangimentos morais voltam a estar a níveis semelhantes aos da Idade Clássica [bem longe de constrangimentos advindo da moral e ética cristã], numa época em que o sexo se banalizou, numa época em que as relações, tais como os bens são cada vez mais curtos e perenes, fará sentido contrapôr os dois conceitos?

Hoje, creio ser seguro dizer que as noções de felicidade e auto-satisfação são objectivos cada vez mais propalados e enraizados na população.
Poderá ser consequência de uma sociedade cada vez mais individualista, que muitas vezes leva a que desagúe na tal perenidade de relações que questionei no parágrafo anterior. Mas sabendo-se [há estudos nesse sentido] que o amor não é mais que uma reacção química que estimula e acelera o organismo, induzindo sensações de bem estar através da libertação de dopamina - sim poderemos em última instância referir que o amor é uma verdadeira droga pesada - mas sabendo-se que é uma reacção que dura algum tempo, não estará face a estes dados e face ao contexto, condenada a existência da noção de amor eterno?

E o que dizer do sexo? Será meramente um reflexo animal que nos impele no sentido de perpetuação e reprodução? Será algo desprovido de carácter e afecto para com o outro? Será menos importante que o amor? Será um mero acto onanista de auto-satisfação? Ou será meramente algo que as pessoas tenderão a valorizar demasiado, face à percentagem de tempo gasto numa vida com o mesmo?

Observando à quantidade de questões levantadas - que espero que sejam úteis para o programa - lanço desde já a minha visão [que será sempre redutora face ao tema complexo e creio à falta de preparação para falar sobre a temática].

Alberoni - proeminente sociólogo que escreve no jornal I à terça [as crónicas valem o jornal ou pelo menos um espreitar de olhos via internet aqui e aqui] - especialista que é no estudo de relações, demonstra que os dois conceitos não estão assim tão separados. De facto, é de senso comum que pode haver sexo no amor. A separação, a fazer-se será sempre pelo factor exclusivo que o amor tende a adquirir. No campo meramente sexual, qualquer interveniente pode ser substituído por outro, mas quando entramos no campo amoroso, a exclusividade e a fidelidade que é devida ao parceiro tendem a ter uma imensa importância. O ciúme apenas nasce da exclusividade, isto porque todos nós apenas nos queremos sentir os mais importantes, únicos ou insubstituíveis para a outra pessoa.

Numa sociedade cada vez mais descomplexada a nível de valores e moral [o que não é necessariamente mau olhando ao passado], a rápida inversão de valores e códigos vivida faz com que hoje em dia estas duas componentes estejam cada vez mais separadas. Correndo o risco de ser apelidado de velho [algo que a minha vintena e meia de anos no BI contraria], creio que é seguro se dizer que hoje em dia, será bem mais irreverente e arriscado amar, do que vir a ter sexo com alguém. As consequências [boas ou más - nem tudo são rosas meus amigos] advindas de tal facto, tornam o amor bem mais complexo que o sexo, se bem que as duas componentes estão devidamente relacionadas e este último é igualmente importante numa relação amorosa.



imagem: Portugal Street Art [graffitti em Lisboa feito por um conhecido de muitos que aqui escrevem que por acaso encontrei nesta galeria de guerrilla art]

2009-10-23

Tristo-Rei



Reacções divinas às palavras de Saramago?




(e eu a pensar que a silly season já tinha acabado. Quer Saramago, quer as reacções despoletadas foram desnecessárias. A alimentação destes temas pelos media foi igualmente patética, numa altura em que importantes acontecimentos ocorrem. No entanto e comentando pessoalmente o caso, vejo que tratou-se meramente de uma boa manobra de marketing por parte de Saramago. O laicismo e o ateísmo, quando levado ao extremo, é igualmente tão ignorante, redutor e intolerante, quanto a religiosidade extrema o pode ser. )

imagem: Portugal Street Art

2009-10-22

Quando os flashes estão off.



"(...)Poucos paparazzi conseguem captar momentos íntimos como Brad Pitt a depilar as pernas de Angelina Jolie com uma gilette, Nicole Kidman ao espelho a usar fio dentário ou a Rainha Isabel II sentada na sanita a ler uma revista. A fotógrafa britânica Alison Jackson consegue tudo isso e muito mais. Pôs George Bush a resolver um cubo mágico, convenceu Madonna a mudar a fralda ao seu bebé adoptado e apanhou Amy Winehouse de garrafa de rum na mão a divertir-se numa ilha das Caraíbas, onde supostamente estaria a passar uma temporada numa clínica de reabilitação.

Alison Jackson não está no sítio certo à hora certa, nem tem uma objectiva que entra sem ser convidada em casa dos famosos, ultrapassando paredes e segurança. O truque para as suas fotografias é contratar sósias ou pessoas que encontra por acaso na rua e lhe lembram alguma estrela, nem que seja vagamente(...)"

Tantas vezes colocadas num pedestal e elevadas a uma condição sobre-humana, não deixa de ser engraçado visualizar estas montagens e situações elaboradas com duplos, sem nos questionarmos e pensarmos que efectivamente, também as estrelas e pessoas com imensa exposição mediática, passam por situações banais e comuns como um de nós, por detrás da imensa capa que muitas vezes têm de exibir. Neste caso em situações bem cómicas, simulando situações que poderiam acontecer no recanto do sua privacidade quando os flashes estão off.

Para visualizar o restante trabalho de Alison Jackson, vide sítio da artista - via I (clicar em 1ºparagráfo para artigo completo.

2009-10-20

The eternal search of the perfect wave



Até 30 de Outubro, a praia de Supertubos em Peniche acolhe a etapa itinerante e secreta "Rip Curl Pro Search" do circuito ASP (ex-WCT) - a divisão maior mundial do surf.

Os magníficos fundos de areia da dita praia, terão a presença dos melhores 44 surfistas mundiais mais Justin Mujica, vencedor dos trials destinados aos competidores locais.

Conhecida a propensão para a ocorrência de longos e perfeitos tubos, espera-se que os mesmos sejam presenteados com a mestria do nonacampeão Slater, a tenacidade de Saca que joga praticamente em casa, ou pela disputa quase fraterna pelo actual campeonato, entre os irmãos de armas "aussie" Mick Fanning e Joel Parkinson.

Tudo isto e muito mais [consta que as "vistas" até costumam ser "boas"], numa praia bem perto de si. A não perder, até 30 de Outubro em Peniche.

2009-10-18

De que falamos quando falamos de cientistas? - 20 de Out. e 17 de Nov. Sala Estúdio - Teatro Nacional D. Maria II

Sito agora a Sala de Imprensa que nos fala de uma das iniciativas de promover a ciência em Portugal:


Este espectáculo foi uma encomenda para a Noite dos Investigadores 2009, uma iniciativa da União Europeia que visa aproximar o público em geral dos cientistas e do seu trabalho. Este ano em Portugal celebrou-se a Ciência através das Artes Cénicas e o Teatro-Fórum foi uma das abordagens usadas.


Os autores do espectáculo começaram a colaborar juntos em projectos de Teatro-Fórum em 2007 no Grupo de Teatro do Oprimido de Lisboa, onde criaram três espectáculos em conjunto. Romeu Costa é também actor e encenador profissional, David Marçal tem acumulado funções de cientista com a de criativo, em especial de textos que envolvam humor e ciência, e Joana Lobo Antunes traz experiência em investigação científica e em teatro.


Em conjunto com mais de 15 cientistas de diversas áreas de investigação, todos em pontos diferentes das suas carreiras, desenharam os conflitos e as situações que vos apresentam neste espectáculo novo, original e que pretende provocar reflexão sobre o que significa ser cientista em Portugal.


Acreditamos que quanto melhor informados estiverem os cidadãos sobre esta realidade mais facilmente, e de forma mais sustentada, podem apoiar e compreender a importância do investimento público na ciência portuguesa.

Depois da Noite dos Investigadores os cientistas continuam a subir ao palco - nos próximos dias 20 de Outubro e 17 de Novembro será no do Teatro Nacional D. Maria II. Às 19h00, com entrada livre.

Nesta sala de imprensa poderão encontrar informação útil para divulgação do projecto e deste espectáculo. Para mais esclarecimentos estamos disponíveis por mail (cqd.geral@gmail.com) e por telefone.


Eu vou lá estar...esperemos que vocês também... A ENTRADA É LIVRE!!

2009-10-14

Rapariga do Brinco Precário




Estima-se em cerca de 900.000 trabalhadores ou seja mais ou menos cerca de 1/5 da força de trabalho activa em Portugal, os possuidores dos muitas vezes terríveis quadrados verdes - os chamados "falsos recibos verdes".

Pese criados a pensar nos chamados trabalhadores independentes que por vias das suas funções não necessitavam de um vínculo permanente a uma dada empresa, no entanto o uso abusivo dos mesmos veio a gerar situações que efectivamente me obrigam a usar o adjectivo pejorativo que usei no primeiro parágrafo.

Tal como muitos sabem [e sentem] aqui neste blog, olhando à difícil situação vivida, num contexto em que o desemprego grassa, convém ter em atenção o alastramento deste fenómeno que tem contribuído e muito para a progressiva precariedade do mercado de trabalho.

Se é verdade que temos uma das legislações laborais mais rígidas da Europa - se bem que avaliadas segundo cânones bem liberais, também é bem verdade que subterfúgios como a existência dos recibos verdes ou a expansão extemporânea de Empresas de Trabalho Temporário (ETT), têm permitido um efectivo controle da taxa de desemprego, tudo à custa do futuro de uma geração [os mais afectados] que assim se vê envolvida numa espécie de volatilidade sem fim, que difere muito da segurança sentida pelos seus pais.

Que danos provocarão o alastramento desta situação? Será que toda esta instabilidade será benéfica para quem agora começa a construir uma vida? Que tipos de danos a nível económico, social e mesmo a nível de plasticidade mental - há imensas correntes que defendem que as vivências e experiências vividas até meados dos 20/30, determinam os valores e princípios defendidos por cada um - decorrerão do efectivo prolongamento e aprofundamento desta precariedade? Não contribuirá esta espécie de "No Man's Land" para o agravar das já de si fortes disparidades sentidas pelo país? Não produzirá toda esta insegurança, um aprofundamento ou aparecimento no futuro de discursos mais radicalizados? Que consequências a nível demográfico [aliás já sentidas] ocorrerão?

Bastará a lógica dos estágios remunerados? Poderemos confiar numa suposta ética social das empresas, quando a maioria do tecido empresarial do país é constituído por PME's tendo imensas dificuldades de tesouraria e possuíndo os empresários na sua generalidade um baixo nível de qualificações? Poderemos confiar num Estado que pese almeje ser universalista - ainda que não tenha meios para tal - incorre nas mesmas práticas? Como alterar toda esta espiral aparentemente descendente, quando os dados à partida já estão desvirtuados, repercutindo-se tais noções para gerações vindouras?

[sobre o tema, debate no próxima sexta na casa do Brasil, a propósito do lançamento do livro "2 anos a FERVEr" - mais info aqui]




"Winning Hearts and Minds"



About "Operation Magic Kingdom" and other James Cauty work please click here


A eterna guerra




Mac vs PC

[numa publicidade criativa bem ao jeito do conceito Mac]



post scriptum: escrito por alguém que tem um PC

2009-10-13

Roberto Leal ou António Joaquim Fernandes?



Artista Pimba ou Cantor de Música Tradicional? Deve um artista renegar as suas raízes à custa de uma mera estratégia de reinvenção de imagem ou será que esta mudança pode-se incluir como um mero processo criativo num lato conceito de reinvenção artística? Um nome manter ou não? Tudo questões que o público pode responder sobre a forma de uma pequena questão, numa interessante e criativa forma de promoção - votar aqui.

jet lag can kill



2009-10-12

The Palestine Job by Banksy II


"(...)Banksy recently traveled to the Middle East to share vision with those on the Palestinian side of the wall. Besides his usual fare of stenciled figures and abstracted interventions, several of the nine works depict windows or holes looking onto idyllic scenes – The series has been dubbed “Holiday Snaps.” Although the trip was largely without incident, Banksy did encounted some resistance. Said one passerby: “you paint the wall, you make it look beautiful.” Banksy thanked the man, only to be answered with, “we don’t want it to be beatiful, we hate this wall. Go home.”

in Life Without Buildings


2009-10-11

a real doença da Democracia

Há uma ideia brutalmente enraizada no senso-comum que aponta as eleições autárquicas como aquelas onde a participação popular é maior e o voto/gesto maior poder encerra. Como estas eleições parecem estar a dar sinal não será o caso este ano.

Não consigo apontar a razão para tal facto. Nem quero. Poderia quanto muito apostar que a crer na opinião generalizada que apenas uma percentagem ínfima das presidências da câmara mudará de mãos é motivo suficiente para qualquer português aproveitar o calor na praia, o fresco do centro comercial ou o sinistro do candidato-assassino.

O que pretendo acima de tudo sublinhar é que as eleições autárquicas são provavelmente um dos factores mais empobrecedores da democracia. A posição é questionável, sem dúvida, mas posso apoia-la com diversos exemplos:
- os diferentes casos de corrupção de autarcas em que já julgados ou não continuam a ser uma referência para os votantes - Isaltino, Felgueiras, etc;
- os candidatos que representam inquestionavelmente uma força política e no entanto tomam posições claramente contrárias - Ana Cristina Ribeiro;
- os candidatos que o são mas já têm garantido um outro lugar "mais importante" em caso de derrota - Ana Gomes, Elisa Ferreira;
- os candidatos a Assembleias Municipais que só o são para dar legitimidade ao candidato camarário - Miguel Portas; Ângelo Correia;

E poderia ainda citar mais uns quantos exemplos... Mas acho que nem vale a pena dizer mais nada... E porque me surge esta ideia hoje? Fui votar pela terceira vez nas eleições autárquicas e pela terceira vez fui "obrigado" a votar em branco. Não senti que houvesse no espaço político onde costumo votar uma opção viável.

Claro que poderia dizer que são eles, os nossos autarcas, que estão mais próximo de nós. Que é graças a eles que vemos o Estado em toda a sua plenitude funcionar. Mas não concordo. Não acho que seja fazer duas rotundas, mudar umas lâmpadas nas ruas, arranjar uns passeios e tratar dos jardins de quatro em quatro anos que é estar próximo das pessoas. Pelo contrário são estes pequenos gestos apoiados na frase "por mim tinha eleições de seis em seis meses para arranjarem a cidade" que minam a Democracia. Não são as potenciais asfixiais democráticas mas sim o caciquismo do século XIX que se arrastou até aos nossos dias que destroem lentamente a confiança nas instituições.

Soluções? Não tenho. Mas aceito propostas...

Um passo rumo à UE?


Surpreendentemente a Turquia e a Arménia assinaram um acordo para a normalização de relações, algo que olhando ao diferendo que as opunha representa um grande passo. Recorde-se que na origem do mesmo, estava o genocídio [massacre na versão turca] e deportação em massa de arménios para o deserto sírio durante a ocupação otomana em especial durante o período 1915-17. Enquanto o lado turco sempre negou ou menorizou os acontecimentos, o lado arménio sempre clamou vingança pela morte de quase 1 milhão e meio de compatriotas, algo que gerou imensas tensões, aliás ainda visíveis nas respectivas opiniões públicas.

Mais que o normalizar de foco de tensões, numa zona estratégica em termos energéticos - corredor de passagem de oleodutos e gasodutos, importa ver este acordo sob o prisma turco.

Esta questão, em conjunto com a questão da minoria curda e com a questão cipriota - de apoio à República do Norte do Chipre, representavam grandes empecilhos à uma plena candidatura à UE, algo que recorde-se acontece desde 1999 [embora intenções remontem à década de 60] não gerando grande entusiasmo na maioria das opiniões públicas dos parceiros europeias, devido ao choque civilizacional que poderia acontecer com a entrada de um grande país mulçumano numa comunidade com valores e tradições judaico-cristão.

A parte desta situação, e considerando a título pessoal que esta entrada a mim nada me repugna [aliás já aqui o escrevi], o alcance deste acordo, representa mais um forte sinal que Ancara envia aos parceiros europeus, indicando que está disposta a cumprir o longo caminho que ainda lhe falta fazer.

O pior é que a Europa, a braços com uma grande expansão ocorrida há bem pouco - sentindo ainda efeitos da mesma, numa altura em que a necessidade de reforma e agilidade do edifício é demais evidente, numa altura em que se torna imperativo ter uma posição a uma só voz, procurando assim contornar a sua natural erosão em termos de influência no cenário geopolítico mundial, demonstra nesta matéria uma grande divisão e um manifesto desinteresse face aos esforços efectuados - note-se o desinteresse mostrado por Sarkozy na visita do presidente turco esta semana em Paris.

Ainda que haja diferença cultural, considero positiva a entrada da Turquia pelo sinal que seria dado ao mundo islâmico - o seu percurso laico é quase exemplar e pode constituir um bom ponto de partida para países na zona, quer por outro lado, pela influência que a mesma exerce, seja pela sua imensa diáspora, seja no chamado crescente turco que recorde-se se prolonga até aos confins da Ásia Central - onde Estados fracos saídos da desagregação da ex-URSS, têm sido autênticos viveiros de terroristas.

Sentimento Pueril


Ontem como hoje continua inapagável. O sentimento de satisfação depois de uma boa e disputada "futebolada".

Tic Tac Tic Tac


like a fucking tickin' bomb!



foto via Pensar Custa

The Palestine Job by Banksy


a construção de um mito



Da mesma maneira que Che, em parte por via da mítica foto de Korda, se tornaria para além de um dos ícones mais representados da cultura pop na segunda metade do séc. XX [segunda imagem mais representada na era contemporânea depois de Jesus Cristo], um símbolo de messiânico de idealismo e mudança - ainda que convenientemente desprovido do real lado obscuro, será que no próximo século o grande símbolo retratado será o de Obama?





Para já, parece que todos sinais apontam nesse sentido. Para ajudar ainda mais à "messianização"da sua figura, surpreendentemente o Nobel da Paz deste ano foi-lhe atribuído, isto quando o seu mandato, ainda que pontuado de muito boas intenções, ainda não realizou resultados palpáveis.
Mas a mensagem subjacente, mais que um reforço e um incentivo para o atingir do que se propõe, vem ao fim ao cabo, saudar o regresso dos EUA à lógica multilateral em relações internacionais reiterando os benefícios do diálogo. Tarefa para um super-homem olhando a complexidade do mundo que nos rodeia? Então Obama é o homem indicado para o trabalho.


post scriptum: No entanto, ainda que crente nas suas capacidades, não será precoce e extemporânea esta nomeação. Se atendermos que as nomeações para o Nobel são submetidas no início de Fevereiro [onde se reduz a uma shortlist de 5 nomes apenas segundo lido na CS], chegamos à conclusão que desde a tomada de posse a 20 de Janeiro deste ano, Obama apenas precisou de estar menos de 15 dias no cargo para ser nomeado...

2009-10-10

O debate e a campanha que gostaria de ter visto.


Condicionadas pelo facto de estar a ocorrer após umas disputadas legislativas e estando os portugueses estafados de tanta campanha, a impressão que fico é que este terceiro acto eleitoral num curto espaço de 4 meses, decorreu no cômputo geral de uma forma muito morna e superficial.

Ainda que pautadas por um estranho ritmo de "final de época", assistiu-se aqui e ali a interessantes discussões, em especial nas principais câmaras do país, lutas obviamente empoladas pelos meios de comunicação nacionais dado o seu mediatismo. Mas ainda assim, creio que mais uma vez desperdiçou-se uma excelente oportunidade para discutir medidas que a ser tomadas representariam muito a médio-longo prazo. Mas tomando em linha de conta que o eleitor vota em função do curto-prazo, que governantes se regem por um calendário eleitoralista, numas eleições de cariz local o que esperar?

Tendo seguido toda a dinâmica de campanha pelos meios de comunicação social com a atenção que um cidadão comum dispensa ao tratamento que é dado a estas acções [sempre condicionado ao tratamento que é dado pela comunicação social], observei no entanto que esta campanha , falhou ainda assim, uma vez mais na discussão do verdadeiro posicionamento do papel das autarquias, como factores de coesão e desenvolvimento, assim como quase não se referiu a necessidade premente de uma profunda reforma administrativa a nível local, antes de se poder pensar em medidas mais ambiciosas como a regionalização.

Portugal, pequeno país muito homogéneo em termos histórico-culturais, é dos países mais centralizados da Europa. Aliás, o facto das nossas fronteiras continentais serem praticamente as mesmas há 800 anos [desde Alcanizes] influí em tal facto.
Por outro lado, há que ter em conta que os concelhos têm muito do seu fundamento nas cartas de foral que foram sendo outorgadas pelo Rei desde a Baixa Idade Média. As freguesias - agrupamentos de cariz ímpar na Europa - descendem por sua vez das sede de paróquia que existiam.

Neste momento, Portugal tem cerca de 308 concelhos que por sua vez têm 4260 freguesias. O problema é que coabitam por vezes dentro do mesmo concelho freguesias como os Olivais com 40.000 habitantes e a freguesia de Mártires que é na prática um quarteirão no Chiado com cerca de 400 habitantes, isto olhando às 53 freguesias de Lisboa.

Parece caricato, mas a última grande reforma ocorrida em Portugal a este nível, aconteceu na instauração do liberalismo, quando Mouzinho da Silveira reduziu o caótico quadro de quase 800 concelhos existentes para bem perto do actual número, assim como introduziu o conceito freguesias - separando-as do poder intemporal da Igreja - ou criou o esqueleto dos, até há bem pouco tempo, actuais distritos.

Curiosamente, devido a esta situação - que fomentou muitas contra-revoltas dos caciques locais - Mouzinho foi obrigado a recorrer ao exílio em Paris. Quase 200 anos depois, a razão teima em manter-se: uma profunda reforma administrativa mexeria com muitas práticas vigentes e com muito clientelismo instaurado com o beneplácito das estruturas partidárias locais.

Portugal, para além do seu profundo centralismo, teima em manter uma estrutura administrativa complexa, porém não dispondo estas estruturas de meios e competências para gizar políticas e actuar em áreas mais próximas do cidadão.
Se compararmos com outros países, notamos que as transferências de meios existentes para o poder local é manifestamente menor que em Espanha ou França. Por outro lado, enquanto os nosso congéneres espanhóis ou franceses possuem um poder local competências para actuar na educação ou na saúde, notamos que em Portugal as competências atribuídas aos nossos concelhos são manifestamente reduzidas e limitadas, não fugindo à lógica do "betão".

Por isso não espanta, que dispondo de parcos recursos e constituindo as receitas advindas do licenciamento e construção, no fundo a principal fonte de receitas que uma autarquia pode arrecadar, que haja tantos atropelos a PDM's ou que muitas vilas e cidades portugueses sejam um verdadeiro caos urbanístico, alimentando os lobbies da construção civil que por sua vez erguem e mantêm no poder caciques que na maioria dos casos se comportam como senhores dos sítios onde governam.

Daí que e tendo em conta que uma efectiva regionalização é necessária, creio que a mesma apenas surtirá efeito, se precedida antes de uma efectiva e profunda reforma administrativa a nível local. Situações como os 89 concelhos de Barcelos - com uma população menor que o Funchal ou o facto de a Rua de S. Bento em Lisboa atravessar 6 freguesias (?!?), são situações que tornam impraticáveis qualquer tipo de tomadas de decisão em conjunto e que demonstram a fragmentação existente.

Urge assim reorganizar o território, dotando no entanto os municípios de outro tipo de competências que actualmente estão na estrita competência do Governo. As freguesias - que deveriam ser reduzidas [ainda que olhando protegendo e promovendo a coesão], pela proximidade existente, deveriam também ver reforçadas competências em especial em matérias mais relacionadas com o dia-a-dia dos cidadãos.

Só assim, o princípio de subsidiaridade seria plenamente cumprido, libertando um já constrangido Estado para a tomada de decisões a um âmbito mais geral e nacional. A poupança de custos e os ganhos em termos de know-how local gerados seriam imensos. E muito provavelmente, o números de caciques alimentados por patos-bravos da construção desceria e muito.

Em suma, penso que surgiria assim uma verdadeira coesão nacional. E o poder local deixaria a sua habitual figura de parente pobre, assumindo uma vocação realmente agregadora e vocacionada para estar ao serviço do cidadão.

2009-10-09

Normalidade democrática

Os sinais eram imensos, mas aparentemente o regime deixou cair de vez a sua verdadeira máscara. Os conceitos de normalidade democrática na Madeira, aparentemente não são os mesmos que os aplicados na restante extensão do território - em conformidade com os princípios geralmente aceites na Europa Ocidental.

Desculpem-me desde já os leitores, por estar a focar novamente a tecla Madeira, mas não consigo calar a revolta face a acontecimentos que perpetuam-se há mais de 30 anos e que ultimamente persistem em aparecer.

O conceito de democracia é ao contrário do que se pensa, uma conceito deveras lato. Na realidade, no estrito sentido da palavra, significa o governo do povo, no que qualificamos de democracia directa, que ao contrário da representativa, os próprios cidadãos decidem os destinos da gestão pública por maioria. A parte de questões de democracia directa ou representativa, queria isso sim focar que a protecção de minorias é um conceito que apenas aparece devidamente estruturadas e defendida com o que se chama democracia liberal de cariz ocidental.

Esta tornou-se a norma vigente e aceite, sendo a mesma igualmente interpretada e aceite de acordo com toda a herança e matriz histórico-social, como o sistema menos imperfeito de governo. Obviamente que a sua interpretação depende das tais nuances e matrizes histórico-culturais que são dissonantes de país para país, mas poderemos mesmo assim identificar como algo que é geralmente interpretado e aceite em toda a Europa Ocidental.

Na região, fruto de muitos constrangimentos histórico-culturais, estas noções são desde sempre desprezadas. Tal como no passado, a protecção e graves desequilíbrios sociais persistem. Tal como no passado, o espírito crítico e a opinião dissonante é abafada e tomada como afronta em prol de uma normatividade agregadora a uma só voz. Poderia teorizar sobre o porquê de todo isto, mas sei que muito provavelmente escreveria páginas e páginas e não é este o meu propósito.

O meu propósito é demonstrar a total solidariedade para quem ousa efectuar oposição ou destoar politicamente num ambiente asfixiado como é o da Madeira. Fazer oposição não é fácil na ilha, aliás como é norma em meios mais pequenos e fechados. Mas fazer oposição quando esta asfixia é tolerada pela maioria da população, votem ou não nos perpetuadores de toda esta situação, isso é realmente de valor. Quando a passividade da população tolera a violação de pequenas liberdades das minorias que noutros pontos são dados adquiridos, assumir uma opinião dissonante pode assumir consequências que podem vir a ter efeitos muito negativos na vida de quem ousa efectuar essa oposição.

Daí este post, que é escrito a título pessoal (dado não poder vincular a opinião de todos os desbobinadores, que felizmente é diferente e variada). Aliado a este elogio, acrescento o meu "mea-culpa" por ser passivo com a situação e apesar de discutir e falar da mesma, nunca ter feito nada realmente para mudar a mesma. Por, apesar de estar longe no "rectângulo", não ter feito mais. Porque estando longe, é mais fácil nos abstrairmos e "esquecermos" o assunto. Por nunca ter dado a cara ou mesmo o nome. Por ler que há quem queira 54-0 por mero tributo ao líder - que se comporta como um semi-deus - e por eu, no meu pequeno contributo e consciente do que tal barbaridade representa, pouco ou nada ter feito. Ou meramente, "mea-culpa" por ao escrever estas linhas, poder estar a assumir um papel moralmente superior sem que haja consequência prática a nível de acções.

Finalizo este longo e (em parte) pessoal texto com uma citação de Edgar Faure: "A arte de governar consiste em satisfazer a maioria da nação sem antagonizar a minoria"

O que eu desejaria simplesmente é que tivesse em conta o contributo da minoria. Era tudo o que pedia. Nada é perpétuo. Mas preocupa-me o alongar da actual situação e os custos que poderão advir daí.

De um madeirense expatriado, mas que mantém a Madeira no coração.
Aires Gouveia (aka il_messajero)

2009-10-02

Bichos Instantâneos

"O que é uma árvore? Um ser que te ignora e nos ignora? Nós designamos tudo, determinamos, sabemos tudo. Uma árvore é um ser como uma formiga ou uma bactéria, mas é uma árvore. Nós determinamos tudo e perdemos a continuidade infinita do cosmos, do amor, da infância, da nudez. Nós somos como todos, mas fora da banalidade instruída, fora da perversão da humanidade socializada. Nós somos obscuros personagens de uma condição obscura. Não procuro que me esclareças. Sou um bicho que não sabe responder, determinar, mas quer partilhar o seu insondável enigma, o seu desamparo cósmico, a sua impossibilidade fatal de existir. A minha pele não é a de um homem seco e delimitado por axiomas ou por uma ideologia."

António Ramos Rosa

A Mudança no Público e a CS


José Manuel Fernandes deixou hoje o cargo de director do Jornal Público.

Pode ser que este jornal, que me habituei a considerar como meu - pese o I me tenha cativado nos últimos tempos, volte a patentear a qualidade mas acima de tudo a isenção que desde o início mostrou.

Apenas acrescentar que nada tenho contra a pessoa a questão, mas é um facto que pretendendo o Público ser um orgão isento e imparcial, na verdade o que transparecia para o comum leitor é que o jornal de há uns tempos a esta parte falhava efectivamente neste propósito, a começar especialmente pelo seu director, a quem se pedia um pouco mais de contenção, pese toda a liberdade que dispunha para exprimir as suas ideias nos seus editoriais.

Toda esta temática, levanta muitas outras interessantes questões como: não deveriam os jornais seguir o modelo anglo-saxónico de pronunciamento sobre as suas preferências políticas e ideológicas, especialmente em tempo de eleições? É que se analisarmos bem, nunca será possível alcançar uma verdadeira imparcialidade, dado que os jornalistas transpõem para o papel a notícia, utilizando os seus próprios filtros, algo que advém de toda a vivência vivida, ideais defendidos, etc.
Uma outra questão é a questão da agenda escondida por parte dos grupos empresariais que detém os órgãos de comunicação - algo que é cada vez mais concentrado, havendo uma grande Justificar completamenteinteracção entre os diferentes meios dentro de cada grupo. Não é surpresa para ninguém que a OPA vetada à Sonae pode ter tido influência em todo o clima de perseguição movido ao anterior governo cessante. Ou que outros grupos, igualmente tentam influenciar a opinião pública através dos seus orgãos de comunicação. E aqui a questão do controlo de informação e o soltar da mesma em alturas chave é algo que demonstra o que estou a explicar.

A outra questão que finalmente aqui levanto [aliás já aqui explanada], é a crescente "tablonização" dos meios de comunicação, sentindo-se isso na opção da imagem sobre o conteúdo, na inversão de todo o processo à lógica economicista com redução de custos, avanço galopante da publicidade [a redução do número de tiragens e consequente decréscimo do valor de mercado publicitário a isso obriga no caso dos jornais de papel]. Até que ponto a qualidade de informação é mantida e preservada pelo próprio meio? Deverá apenas o mercado ditar aquilo que quer receber?

Divulgação - Passeio Madeirenses Expatriados a Estudar na capital


Ainda que seja uma iniciativa de cariz partidário [no qual não me revejo], dado que considero que o alcance e o propósito da iniciativa é efectivamente gerar um maior conhecimento e empatia entre os madeirenses expatriados na capital colmatando assim um défice que existe desde que a Casa da Madeira encerrou no Bairro Alto [o que existe é uma espécie de não representação que é vedada ao comum madeirense], respondendo ao apelo do amigo Eduardo [BBS], abaixo divulgo a seguinte actividade.

"Amigas e amigos,

Quero convidar-vos a participar numa actividade, que pretende unir os estudantes madeirenses a viver e estudar no Continente. No próximo dia 3 de Outubro, pelas 13 hora (o ponto de encontro é no Marquês Pombal, ao pé do Parque Eduardo VII) haverá um passeio turístico pelos principais pontos turísticos de Lisboa, nomeadamente Baixa Pombalina, Castelo de São Jorge, Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém. É uma actividade que não perdes nada e ficas a conhecer colegas madeirenses em Lisboa e até terás a possibilidade de visitar alguns locais de interesse em Lisboa.

Inscreve-te na actividade, podes responder a este e-mail a dizer que irás aparecer e traz um amigo. Peço é que leves o cartão de estudante, deste ano ou do ano anterior, só por uma questão de entrar nos monumentos. Qualquer dúvida contacta-me.

Ah… E passa a palavra aos teus amigos ou divulgar no teu blogue, hi5 ou facebook. Em anexo segue o cartaz da actividade. Divulga…

(...)

Beijinhos e abraço,

Eduardo Freitas (...)"

Post Scriptum: Mais info nomeadamente a nível de contacto clicar aqui