Será o amor mais irreverente que o sexo nos dias que correm? Creio que esta questão poderá constituir um bom ponto de partida para estas breves linhas, onde pretenderei discernir um pouco sobre a temática amor vs sexo.
Antes de mais, a opção por este tema não é inocente. Será precisamente o tema que abrirá a 3ª série de programas do "Irreverência" na RTP-Madeira, programa produzido e apresentado pelo Jorge Gabriel cá do burgo, o nosso Desbobinador Tiago. Celebrando tal facto e prestando a minha homenagem ao trabalho produzido - os constrangimentos para levar por diante tal feito porventura serão maiores do que se possa imaginar - venho por este meio escrevinhar meia dúzia de linhas acerca do programa, além de efectuar a devida publicidade ao mesmo [que acontece aos sábados às 19h15, podendo ser acompanhado online ou visualizado depois via sítio da RTP].
Feita esta declaração, confesso que a primeira ideia que me ocorreu acerca do tema, seria considerar que a diferença entre os dois conceitos era a obrigatoriedade entre ter que gastar dinheiro antes num jantar - leia-se amor - ou não efectuar isso e passar logo para a acção - leia-se sexo. Mas mesmo dissecando a graçola [que agora que acabo de a ver escrita nenhuma graça acho], permite-se logo depreender a perspectiva erótica que a palavra amor tem e a sua relação com a libido.
De facto, creio que um bom ponto de partida para analisar esta questão, seria compreender o verdadeiro sentido de ambas as palavras, da qual destaco pela sua complexidade a palavra amor.
De facto, há vários prismas pelo qual é usada a palavra. A própria construção e evolução etimológica da palavra atesta bem toda esta complexidade. Segundo a Wikipédia - que para leigos na matéria é um bom ponto de partida - os gregos separavam o amor e distinguiam-no sob várias perspectivas. Importa realçar aqui a componente "Eros" - desejo sensual/atracção e contemplação física e a componente "Agape" - amor ideal e puro/platónico.
Na Roma Antiga, o termo condensa estas duas perspectivas na palavra "Amare" termo ainda hoje usado seja num sentido afectuoso e romântico, seja num sentido meramente sexual.
Daí que, e tendo em conta as origens e evolução da nossa língua, essa dualidade ainda se reflicta quando pronunciamos a palavra amor.
Feita esta pequena [ok...longa] explicação, como explicar a relação entre amor na sua componente "eros" e sexo? Fará sentido a existência de tais conceitos numa época de plena dessacralização do sexo? Numa época em que os constrangimentos morais voltam a estar a níveis semelhantes aos da Idade Clássica [bem longe de constrangimentos advindo da moral e ética cristã], numa época em que o sexo se banalizou, numa época em que as relações, tais como os bens são cada vez mais curtos e perenes, fará sentido contrapôr os dois conceitos?
Hoje, creio ser seguro dizer que as noções de felicidade e auto-satisfação são objectivos cada vez mais propalados e enraizados na população.
Poderá ser consequência de uma sociedade cada vez mais individualista, que muitas vezes leva a que desagúe na tal perenidade de relações que questionei no parágrafo anterior. Mas sabendo-se [há estudos nesse sentido] que o amor não é mais que uma reacção química que estimula e acelera o organismo, induzindo sensações de bem estar através da libertação de dopamina - sim poderemos em última instância referir que o amor é uma verdadeira droga pesada - mas sabendo-se que é uma reacção que dura algum tempo, não estará face a estes dados e face ao contexto, condenada a existência da noção de amor eterno?
E o que dizer do sexo? Será meramente um reflexo animal que nos impele no sentido de perpetuação e reprodução? Será algo desprovido de carácter e afecto para com o outro? Será menos importante que o amor? Será um mero acto onanista de auto-satisfação? Ou será meramente algo que as pessoas tenderão a valorizar demasiado, face à percentagem de tempo gasto numa vida com o mesmo?
Observando à quantidade de questões levantadas - que espero que sejam úteis para o programa - lanço desde já a minha visão [que será sempre redutora face ao tema complexo e creio à falta de preparação para falar sobre a temática].
Alberoni - proeminente sociólogo que escreve no jornal I à terça [as crónicas valem o jornal ou pelo menos um espreitar de olhos via internet aqui e aqui] - especialista que é no estudo de relações, demonstra que os dois conceitos não estão assim tão separados. De facto, é de senso comum que pode haver sexo no amor. A separação, a fazer-se será sempre pelo factor exclusivo que o amor tende a adquirir. No campo meramente sexual, qualquer interveniente pode ser substituído por outro, mas quando entramos no campo amoroso, a exclusividade e a fidelidade que é devida ao parceiro tendem a ter uma imensa importância. O ciúme apenas nasce da exclusividade, isto porque todos nós apenas nos queremos sentir os mais importantes, únicos ou insubstituíveis para a outra pessoa.
Numa sociedade cada vez mais descomplexada a nível de valores e moral [o que não é necessariamente mau olhando ao passado], a rápida inversão de valores e códigos vivida faz com que hoje em dia estas duas componentes estejam cada vez mais separadas. Correndo o risco de ser apelidado de velho [algo que a minha vintena e meia de anos no BI contraria], creio que é seguro se dizer que hoje em dia, será bem mais irreverente e arriscado amar, do que vir a ter sexo com alguém. As consequências [boas ou más - nem tudo são rosas meus amigos] advindas de tal facto, tornam o amor bem mais complexo que o sexo, se bem que as duas componentes estão devidamente relacionadas e este último é igualmente importante numa relação amorosa.
imagem: Portugal Street Art [graffitti em Lisboa feito por um conhecido de muitos que aqui escrevem que por acaso encontrei nesta galeria de guerrilla art]
Antes de mais, a opção por este tema não é inocente. Será precisamente o tema que abrirá a 3ª série de programas do "Irreverência" na RTP-Madeira, programa produzido e apresentado pelo Jorge Gabriel cá do burgo, o nosso Desbobinador Tiago. Celebrando tal facto e prestando a minha homenagem ao trabalho produzido - os constrangimentos para levar por diante tal feito porventura serão maiores do que se possa imaginar - venho por este meio escrevinhar meia dúzia de linhas acerca do programa, além de efectuar a devida publicidade ao mesmo [que acontece aos sábados às 19h15, podendo ser acompanhado online ou visualizado depois via sítio da RTP].
Feita esta declaração, confesso que a primeira ideia que me ocorreu acerca do tema, seria considerar que a diferença entre os dois conceitos era a obrigatoriedade entre ter que gastar dinheiro antes num jantar - leia-se amor - ou não efectuar isso e passar logo para a acção - leia-se sexo. Mas mesmo dissecando a graçola [que agora que acabo de a ver escrita nenhuma graça acho], permite-se logo depreender a perspectiva erótica que a palavra amor tem e a sua relação com a libido.
De facto, creio que um bom ponto de partida para analisar esta questão, seria compreender o verdadeiro sentido de ambas as palavras, da qual destaco pela sua complexidade a palavra amor.
De facto, há vários prismas pelo qual é usada a palavra. A própria construção e evolução etimológica da palavra atesta bem toda esta complexidade. Segundo a Wikipédia - que para leigos na matéria é um bom ponto de partida - os gregos separavam o amor e distinguiam-no sob várias perspectivas. Importa realçar aqui a componente "Eros" - desejo sensual/atracção e contemplação física e a componente "Agape" - amor ideal e puro/platónico.
Na Roma Antiga, o termo condensa estas duas perspectivas na palavra "Amare" termo ainda hoje usado seja num sentido afectuoso e romântico, seja num sentido meramente sexual.
Daí que, e tendo em conta as origens e evolução da nossa língua, essa dualidade ainda se reflicta quando pronunciamos a palavra amor.
Feita esta pequena [ok...longa] explicação, como explicar a relação entre amor na sua componente "eros" e sexo? Fará sentido a existência de tais conceitos numa época de plena dessacralização do sexo? Numa época em que os constrangimentos morais voltam a estar a níveis semelhantes aos da Idade Clássica [bem longe de constrangimentos advindo da moral e ética cristã], numa época em que o sexo se banalizou, numa época em que as relações, tais como os bens são cada vez mais curtos e perenes, fará sentido contrapôr os dois conceitos?
Hoje, creio ser seguro dizer que as noções de felicidade e auto-satisfação são objectivos cada vez mais propalados e enraizados na população.
Poderá ser consequência de uma sociedade cada vez mais individualista, que muitas vezes leva a que desagúe na tal perenidade de relações que questionei no parágrafo anterior. Mas sabendo-se [há estudos nesse sentido] que o amor não é mais que uma reacção química que estimula e acelera o organismo, induzindo sensações de bem estar através da libertação de dopamina - sim poderemos em última instância referir que o amor é uma verdadeira droga pesada - mas sabendo-se que é uma reacção que dura algum tempo, não estará face a estes dados e face ao contexto, condenada a existência da noção de amor eterno?
E o que dizer do sexo? Será meramente um reflexo animal que nos impele no sentido de perpetuação e reprodução? Será algo desprovido de carácter e afecto para com o outro? Será menos importante que o amor? Será um mero acto onanista de auto-satisfação? Ou será meramente algo que as pessoas tenderão a valorizar demasiado, face à percentagem de tempo gasto numa vida com o mesmo?
Observando à quantidade de questões levantadas - que espero que sejam úteis para o programa - lanço desde já a minha visão [que será sempre redutora face ao tema complexo e creio à falta de preparação para falar sobre a temática].
Alberoni - proeminente sociólogo que escreve no jornal I à terça [as crónicas valem o jornal ou pelo menos um espreitar de olhos via internet aqui e aqui] - especialista que é no estudo de relações, demonstra que os dois conceitos não estão assim tão separados. De facto, é de senso comum que pode haver sexo no amor. A separação, a fazer-se será sempre pelo factor exclusivo que o amor tende a adquirir. No campo meramente sexual, qualquer interveniente pode ser substituído por outro, mas quando entramos no campo amoroso, a exclusividade e a fidelidade que é devida ao parceiro tendem a ter uma imensa importância. O ciúme apenas nasce da exclusividade, isto porque todos nós apenas nos queremos sentir os mais importantes, únicos ou insubstituíveis para a outra pessoa.
Numa sociedade cada vez mais descomplexada a nível de valores e moral [o que não é necessariamente mau olhando ao passado], a rápida inversão de valores e códigos vivida faz com que hoje em dia estas duas componentes estejam cada vez mais separadas. Correndo o risco de ser apelidado de velho [algo que a minha vintena e meia de anos no BI contraria], creio que é seguro se dizer que hoje em dia, será bem mais irreverente e arriscado amar, do que vir a ter sexo com alguém. As consequências [boas ou más - nem tudo são rosas meus amigos] advindas de tal facto, tornam o amor bem mais complexo que o sexo, se bem que as duas componentes estão devidamente relacionadas e este último é igualmente importante numa relação amorosa.
imagem: Portugal Street Art [graffitti em Lisboa feito por um conhecido de muitos que aqui escrevem que por acaso encontrei nesta galeria de guerrilla art]
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