2009-10-11

Um passo rumo à UE?


Surpreendentemente a Turquia e a Arménia assinaram um acordo para a normalização de relações, algo que olhando ao diferendo que as opunha representa um grande passo. Recorde-se que na origem do mesmo, estava o genocídio [massacre na versão turca] e deportação em massa de arménios para o deserto sírio durante a ocupação otomana em especial durante o período 1915-17. Enquanto o lado turco sempre negou ou menorizou os acontecimentos, o lado arménio sempre clamou vingança pela morte de quase 1 milhão e meio de compatriotas, algo que gerou imensas tensões, aliás ainda visíveis nas respectivas opiniões públicas.

Mais que o normalizar de foco de tensões, numa zona estratégica em termos energéticos - corredor de passagem de oleodutos e gasodutos, importa ver este acordo sob o prisma turco.

Esta questão, em conjunto com a questão da minoria curda e com a questão cipriota - de apoio à República do Norte do Chipre, representavam grandes empecilhos à uma plena candidatura à UE, algo que recorde-se acontece desde 1999 [embora intenções remontem à década de 60] não gerando grande entusiasmo na maioria das opiniões públicas dos parceiros europeias, devido ao choque civilizacional que poderia acontecer com a entrada de um grande país mulçumano numa comunidade com valores e tradições judaico-cristão.

A parte desta situação, e considerando a título pessoal que esta entrada a mim nada me repugna [aliás já aqui o escrevi], o alcance deste acordo, representa mais um forte sinal que Ancara envia aos parceiros europeus, indicando que está disposta a cumprir o longo caminho que ainda lhe falta fazer.

O pior é que a Europa, a braços com uma grande expansão ocorrida há bem pouco - sentindo ainda efeitos da mesma, numa altura em que a necessidade de reforma e agilidade do edifício é demais evidente, numa altura em que se torna imperativo ter uma posição a uma só voz, procurando assim contornar a sua natural erosão em termos de influência no cenário geopolítico mundial, demonstra nesta matéria uma grande divisão e um manifesto desinteresse face aos esforços efectuados - note-se o desinteresse mostrado por Sarkozy na visita do presidente turco esta semana em Paris.

Ainda que haja diferença cultural, considero positiva a entrada da Turquia pelo sinal que seria dado ao mundo islâmico - o seu percurso laico é quase exemplar e pode constituir um bom ponto de partida para países na zona, quer por outro lado, pela influência que a mesma exerce, seja pela sua imensa diáspora, seja no chamado crescente turco que recorde-se se prolonga até aos confins da Ásia Central - onde Estados fracos saídos da desagregação da ex-URSS, têm sido autênticos viveiros de terroristas.

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