2009-10-26

Alienação ao quadrado


Sábado vi uma mulher com uma tatuagem no ombro com o símbolo da Herbalife!

Se bem que em parte tenha ficado surpreendido pelo facto da tatuagem versar sobre aquele produto em si [se bem que sabendo-se como funciona a dita organização, manifestações como esta não me surpreendam], reconheço que fiquei a pensar sobre a real influência das marcas nos dias de hoje.

Relembrei-me de um livro que li faz uns anos - No Logo de Naomi Klein (para muitos a bíblia do "neoanarquismo"). Aí é demonstrado que desde sempre houve uma tentativa de separação da marca do produto em si. Ou seja, uma marca mais que um produto, sempre pretendeu almejar e atingir um patamar de conceito próprio representando uma dada característica. Ou seja, mais que mera representação iconográfica de uma empresa associada ao fabrico/venda de um produto, o paradigma mudou para um ideia em que essa marca marque as tendências e represente emoções e modelos a seguir por parte da sociedade, procurando esta fidelizar a pessoa.

Daí que as ditas marcas invistam muito mais na criação do dito conceito e na repercussão da sua imagem, que no desenvolvimento dos seus produtos [vide Nike].

Sabendo-se que a sociedade tal como o Estado é uma construção cumulativa de experiências, tradições, normas de uma dada população num dado espaço geográfico, tendo em conta o elevado patamar de trocas e interacções proporcionado pelo actual estado de globalização, desempenhando as grandes marcas um papel fulcral na repercussão de comportamentos cada vez mais homogéneos a nível mundial, não estarão as marcas a ocupar o lugar anteriormente ocupado pelas religiões e instituições semelhantes? Olhando à progressiva ocupação do espaço, ao progressivo bombardeamento de imagens e conceitos olhando a públicos cada vez mais jovens - cativar possíveis consumidores desde tenra idade, provocando uma efectiva redução de escolha e o fechar de hipóteses - a lógica das sinergias em parte visa esta ideia, que consequências provocarão a nível de comportamentos toda esta overdose mercantil?

Não ocorrerá o risco de haver a curto-médio prazo uma alienação de valores ao sabor da lógica perene das marcas - que estão sempre em constante mutação até para efeitos mercantis? Será que assistiremos a uma progressiva homogeneização com a progressiva erosão de lógicas e tradições locais?

Como conter os aspectos negativos da globalização, sabendo-se que a mesma não pode ser contida e é imparável?

Será toda esta subversão tremendamente imparáveis, ou estarei meramente a escrever um post em tom alarmista, quando não há razão para tal?


foto: D*Face



1 comentário:

Anónimo disse...

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