2009-10-11

a real doença da Democracia

Há uma ideia brutalmente enraizada no senso-comum que aponta as eleições autárquicas como aquelas onde a participação popular é maior e o voto/gesto maior poder encerra. Como estas eleições parecem estar a dar sinal não será o caso este ano.

Não consigo apontar a razão para tal facto. Nem quero. Poderia quanto muito apostar que a crer na opinião generalizada que apenas uma percentagem ínfima das presidências da câmara mudará de mãos é motivo suficiente para qualquer português aproveitar o calor na praia, o fresco do centro comercial ou o sinistro do candidato-assassino.

O que pretendo acima de tudo sublinhar é que as eleições autárquicas são provavelmente um dos factores mais empobrecedores da democracia. A posição é questionável, sem dúvida, mas posso apoia-la com diversos exemplos:
- os diferentes casos de corrupção de autarcas em que já julgados ou não continuam a ser uma referência para os votantes - Isaltino, Felgueiras, etc;
- os candidatos que representam inquestionavelmente uma força política e no entanto tomam posições claramente contrárias - Ana Cristina Ribeiro;
- os candidatos que o são mas já têm garantido um outro lugar "mais importante" em caso de derrota - Ana Gomes, Elisa Ferreira;
- os candidatos a Assembleias Municipais que só o são para dar legitimidade ao candidato camarário - Miguel Portas; Ângelo Correia;

E poderia ainda citar mais uns quantos exemplos... Mas acho que nem vale a pena dizer mais nada... E porque me surge esta ideia hoje? Fui votar pela terceira vez nas eleições autárquicas e pela terceira vez fui "obrigado" a votar em branco. Não senti que houvesse no espaço político onde costumo votar uma opção viável.

Claro que poderia dizer que são eles, os nossos autarcas, que estão mais próximo de nós. Que é graças a eles que vemos o Estado em toda a sua plenitude funcionar. Mas não concordo. Não acho que seja fazer duas rotundas, mudar umas lâmpadas nas ruas, arranjar uns passeios e tratar dos jardins de quatro em quatro anos que é estar próximo das pessoas. Pelo contrário são estes pequenos gestos apoiados na frase "por mim tinha eleições de seis em seis meses para arranjarem a cidade" que minam a Democracia. Não são as potenciais asfixiais democráticas mas sim o caciquismo do século XIX que se arrastou até aos nossos dias que destroem lentamente a confiança nas instituições.

Soluções? Não tenho. Mas aceito propostas...

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