2009-02-13

"Os olhos do mundo e a fortuna" - Review


Sábado, dia 7.

22h, Espaço Kabuki - Centro de Arte Contemporânea, sito aos Anjos. Ainda ofegantes [enganamo-nos na rua], chegamos à entrada que à primeira vista parece uma simples garagem, mas rapidamente revela nas paredes uma exposição de Alexander Arshansky - pintor russo radicado nos EUA que viveu no último ano em Portugal, sendo esta a temática desta exposição [quadros ver aqui]. Leigo na matéria, observo o jogo alegre de cores, o especial fascínio do artista por olhos, a anarquia que impera nas suas telas, assim como as influências [dizem os entendidos] de Picasso, Magritte e Boch. Gosto do que vejo - e desde já fica a minha recomendação para um programa grátis [a não ser que queiram comprar alguma tela...], em exposição até ao próximo dia 18 de Abril.

No entanto o objectivo da vinda [e do post] não é este. Aproveitando a dica deixada anteriormente pelo Pedro, ele próprio, eu e outras duas desbobinadoras [creil e ...], vamos assistir à peça "Os olhos do mundo e a fortuna" de Jonh Herbert.

Escrita no início da década de 60, estreada em 67, esta peça cómico-dramática [em parte autobiográfica] foca o ambiente de um reformatório juvenil masculino. É considerada pioneira, dado que foi das primeiras a abordar seu complexos a temática da homossexualidade, quer despindo certos preconceitos associados a esta, quer abordando o contexto dos reformatórios/prisões. Esteve na origem da constituição da Fortune Society, ONG de reinserção social de ex-reclusos.

Decorrendo num único cenário [a cela], revela-nos a história de um pacífico e ingénuo jovem condenado por delito menor [Smitty] que durante a peça se transformará num insensível e manipulador líder. No processo irá interagir com Rocky [o gabarolas e durão], com Queenie [abertamente homossexual, manipula o sistema em seu proveito], com Mona [sujeito passivo e sensível, é o típico elemento desenquadrado do meio onde está] e com Cara de Anjo [guarda corrupto que se encontra à beira da reforma].

Imbuída de um certo espírito "Actors Studio" [muito em voga em NY na década de 60], trata-se de um excelente texto [adaptada ao contexto português numa tradução efectuada por José Henrique Neto - faz de guarda], com uma excelente interpretação de todo o elenco - o já referido José Henrique Neto, João Vicente, José Redondo, Luís Redondo e Tomás Alves [grupo 3-sete-3] - bem acessorados na produção técnica pela Cena de Eventos [agrupamento a que pertence o desbobinador Pedro Costa - sonoplasta da peça em questão].

Importa realçar que esta peça já esteve em exibição no Teatro Mirita Casimiro (TEC), o Teatro da Trindade e o Espaço Karnart (onde foi escolha da semana da revista Time Out), notando-se um perfeito domínio do texto em questão.
Tanto que nem se deu pelo tempo a passar, fluíndo a peça rapidamente, ajudando em muito as passagens cómicas que a peça possui, sem no entanto deixar de se desviar da mensagem e apelo à reflexão que a mesma se propõe fazer.

Inserida num ciclo "Transgressão e Exclusão” - em conjunto com "O Beijo da Mulher Aranha" de M. Puig (1976), outra peça a apresentar dia 15 do corrente, num debate no mesmo espaço com actores e encenador - fica aqui expresso um interessante e diferente programa para dia 13 (hoje) e 14 de Fevereiro, com a recomendação positiva do Desbobina [pelo menos a avaliar pelas reacções de todos]. O texto e a perfomance valem a pena e é de aproveitar estas duas últimas exibições!

Às 22h no Espaço Kabuki - Rua Newton 10B - Metro Anjos.

Podem reservar bilhetes ou esclarecer alguma dúvida através dos seguintes números: 96.4464855 96.6864730

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