2008-12-12

Maio 68 e Atenas 2008 - pontos de contacto?

Parar um país, queimar carros e atacar as lojas, 'bora' dar cabo da Grécia é capaz de ser uma boa ideia. Conheço pouco do país, só lá estive num momento de festa (Jogos Olímpicos) e não sei se aquilo merece ou não ser derrubado. À partida não me parece. Melhor nível de vida que Portugal, eleições, há décadas, nos prazos previstos, não me parece exactamente o Zimbabwe... Mas posso acreditar que sim, talvez haja um Mugabe em Atenas - é tanta a convicção dos jovens e dos sindicatos nas ruas que só pode. Esse é um pressuposto justo para luta: um tirano, um governo iníquo, muito Esparta e pouco Atenas. Mas se é assim, diga-se. Ninguém o diz. Agora, ver os sindicatos gregos com bandeirolas "contra o assassínio a sangue-frio do jovem Alexander" e daí exigirem o fim dos despedimentos e mais dinheiro do Governo para a Saúde e Educação, dá para perguntar: o que tem o cu a ver com as calças? Um polícia atirou para o ar, a bala fez ricochete e matou um jovem é uma situação que merece que o polícia seja julgado. É o que está acontecer. A justiça grega tranquiliza-me. Assim me tranquilizasse a polícia grega acabando com a bandalheira nas ruas.

Ferreira Fernandes in DN, 11 Dezembro 2008

Chronologiquement, les premiers à s'être mobilisés ont été les "anarchistes". Une heure et demie seulement après la mort d'Alexandre Grigoropoulos, 15 ans, tué par un policier le 6 décembre, ils ont démarré les premières violences. Le drame a eu lieu dans leur fief, le quartier d'Exarchia. Cagoulés, habillés en noir, ce sont eux, pour l'essentiel, chaque jour, les chefs d'État-major de la guérilla urbaine dans les rues de la capitale. Leur QG est à l'université polytechnique (Le Monde du 10 décembre).

Le Monde, 11 Setembro 2008

Mercredi soir à Barcelone, près de 400 jeunes, dont un grand nombre d'origine grecque, ont défilé à partir de 21 heures avec des pancartes afin de protester contre la mort du jeune Grec, certains brûlant du mobilier urbain ou attaquant des agences bancaires. A la suite d'affrontements avec la police, deux manifestants, dont une jeune fille d'origine grecque, ont été arrêtés et deux policiers légèrement blessés. La tension a été plus vive à Madrid, où quelque 200 jeunes ont attaqué un commissariat du centre-ville, près de la Gran Via, brisant les vitres aux cris de "police assassine !", selon le quotidien El Mundo. Plusieurs policiers auraient été blessés. La police anti-émeute est intervenue, arrêtant cinq manifestants, avant de poursuivre les protestataires dans les rues alentour et d'en arrêter quatre autres après que des conteneurs ont été brûlés et une agence bancaire criblée de pierres dans le centre-ville, selon un responsable de la police.

Des incidents similaires se sont par ailleurs produits en Italie, lors de manifestations à Rome et à Bologne. A Sofia, en Bulgarie, des manifestants se sont aussi rassemblés devant l'ambassade de Grèce en signe de protestation. En France, deux véhicules ont été incendiés dans la nuit devant le consulat de Grèce, à Bordeaux, dont la porte a été endommagée. Les inscriptions "soutien aux incendies en Grèce" et "insurrection à venir" ont été retrouvées sur la porte d'un garage attenant.

Le Monde, 11 Dezembro 2008

Haverá mesmo coincidências? No ano em que se comemoram os 40 anos do Maio de 68 eis que surgem dos mais violentos confrontos sociais numa democracia europeia das ultimas décadas. Mais do que isso eles alastraram-se a vários sectores da sociedade e mesmo a outros países contíguos. Será que tal como na Paris de 1968 estaremos perante um novo momento de consciencialização social de jovens e outras franjas da sociedade?
Se fizermos uma análise com maior atenção e pormenor apercebemo-nos desde logo que existem diferentes motivos por detrás destas manifestações e movimentações sociais, e que alguns deles são muito pouco inocentes.
Se por um lado, parece evidente que os jovens atenienses e gregos sofrem o mesmo que portugueses, franceses ou espanhóis... são as já famosas gerações 1000 euros e afins... os que vivem até mais tarde em casa dos pais e sobrevivem com empregos precários em call-centers... Por outro lado, parece mais que óbvio que não serão estes jovens que vão para a rua atacar policias com a cara tapada e armas brancas.
Ou seja, tal como nos encontros dos Fóruns Sociais Mundiais, há um aproveitamento politico de alguns movimentos de extrema esquerda militarizada e anarquistas deste descontentamento para ganharem força e adeptos nas ruas.
A acreditar que a crise mundial na politica, economia e finanças é real e está a mexer com a sociedade, não nos devemos por isso agarrar às manifestações violentas de Atenas mas sim à emergência de movimentos artísticos engajados politicamente, à difusão de blogs e sites com criticas e alternativas politicas, à massiva participação de jovens na eleição do ultimo presidente dos EUA... Porque a politica está aí fora... em todo o lado... nas paredes de Banksy e no teu próprio "jardim".

3 comentários:

amsf disse...

É a crise...com a barriguinha vazia e em grupo o ser humano tem comportamentos que não tem individualmente e em tempo de vacas gordas!

il _messaggero disse...

Como amsf indicou e bem, não podemos descortinar a diluição de responsabilidade que acontece aos elementos pertencentes a um grupo. Quanto maior este, por norma maior a desresponsabilização individual de cada um. Creio que todos nós já fizemos coisas em grupo que normalmente nos sentiríamos constrangidos a efectuar quando sozinhos.

Olhe p. e. ao exemplo do hooliganismo, mormente o inglês. Estudos feitos indicam que a esmagadora maioria dos adeptos que saem de terras de sua majestade para ver o seu clube/selecção, são pessoas que em condições normais nada faria de mal. O problema são os tais 30 ou 40 arruaceiros que viajam no meio dos 2000 ou 3000 adeptos e que desencadeiam a confusão. Com álcool pelo meio, os adeptos normais, assumem a defesa daqueles que consideram ser dos "seus" atacando assim opositores ou a polícia. Este instinto de auto-defesa está antropologicamente explicado.

No caso grego, houve um aproveitamento de um excesso da polícia por grupos que não reconhece a autoridade do estado - neste caso ao que parece anarco libertários (a bandeira rubro-negra não engana). Grupos de contrapoder (à direita e à esquerda) sempre haverão e não é de agora a rede internacional existente.
Mas não se pode descurar o escalar desta crise. Tal como em Espanha ou França há a geração dos 1000€, na Grécia há a dos 600€ e por cá temos a dos 500€. Assim como há um piorar de condições a nível de protecção social, assim como existe uma opinião desconfiada em relação ao Estado.

Os motins ou altercações ou revoluções são ao fim ao cabo uma espécie de situação escape para todo o confluir de tensões sociais. E para tal basta que haja uma faísca, ainda que a mesma possa ter sido no início instrumentalizada.

Concordo contigo, no entanto quando indicas que estamos a viver um momento parecido ao final da década de 60. Pese entenda que tenha de haver um certo distanciamento histórico para se poder realmente averiguar este facto, acho que este novo despertar éum movimento que já vem desde a algum tempo.
Aliás creio, que os partidos políticos em Portugal (uma democracia cada vez mais transformada em partidocracia) ainda não se souberam realmente adaptar a tal paradigma. Com o advento web 2.0 e o sentimento "do it yourself", o eleitor/cidadão quer ter um papel cada vez mais activo na condução dos destinos da sociedade. No entanto, creio que os meios tradicionais estão esgotados, não sendo convidativos à participação.
Daí a profusão de blogues e sites de índole político onde todos podem dar a sua opinião, daí a emergência de novas formas de expressão, daí a cada vez maior adesão a fóruns e a encontros mais informais e despidos de toda a dogmática de índole partidária, constituíndo assim novos espaços de participação política.

Vou dar um exemplo: a blogosfera madeirense, pese pequena, é muito activa a nível político, onde praticamente todas as forças estão representadas (curiosamente o partido do poder é dos mais sub-representados não sei se por falta de ideias ou por pura info-exclusão). Parecendo que não, lentamente a mesma começa a extravasar o diminuto público que actualmente a consome, quer através das suas redes sociais [importante capital], quer por uma maior credibilidade dada pelos meios "tradicionais" de comunicação social.

[post scriptum: bom post!]

jjt disse...

E melhor comentário ainda(adoro estes momentos de elogios mútuos)...

Este artigo (http://dn.sapo.pt/2008/12/15/opiniao/o_pais_onde_700_euros_compra_2100_pe.html) também está bastante interessante... com um sentido de humor bem mordaz...