2008-12-24

Caça ao voto ou simples demonstração das carências sociais existentes?

A última acção do PND-Madeira teve o condão de levantar este pequeno dilema. Será moral e ético distribuir dinheiro assim à população, numa lógica que à primeira vista aparenta ter meros objectivos de índole eleitoral (foi notória nos blocos informativos nacionais, o agradecimento de muitos dos beneficiários, assim como a declaração que iam passar a votar "nestes")?

Uma resposta com uma visão superficial do assunto, poderia indicar que sim, dado que o contexto reveste-se de uma lógica caritativo e assistencialista. No entanto, aqui o contexto é outro. Creio que mais uma vez, o PND-M conseguiu com uma acção de grande mediatismo (e sabendo-se que o pendor cada vez maior que a comunicação assume em política e na visibilidade que o dado partido tem por parte do simples eleitor), mostrar uma outra face da Madeira. Aquela que está seriamente constrangida a nível económico, mostrando-se no entanto aqui, cada vez maior fractura social existente, cada vez mais decorrente do tipo de desenvolvimento que estupidamente continua a ser empregue (ao invés de se apostar no reforço das competências educacionais e cívicas que por sua vez redundaram num maior "empowerment" político da população).

Há diversas condicionantes que convém referir e que na passada segunda feira vieram ao de cima. Em primeiro lugar, nota-se que claramente há imensas franjas da população que porventura não compreendem o carácter fiscalizador que umas eleições podem constituir. Frases como "Votei desde sempre neles, mas agora vou experimentar estes" são sintomáticas desta falta de maturidade do eleitorado (aliás, em abono da verdade não se resume só à região, sendo vísivel em muitos outros pontos do país). E nem arrisco entrar, pela percepção por parte destas franjas de mecanismos de alternância democrática.

Outro aspecto que é realçado é a chamada "gratidão" que muitas franjas atribuem a certas medidas/acções mediáticas que são efectuadas. Escrevo "mediáticas" pelo simples facto do eleitor comum ter uma visão política a curto-prazo muito centrada no seu dia a dia. Assim, o clamar os louros por medidas introduzidas ou o fazer grandes acções mediáticas (mesmo que o alcance destas seja nulo), acaba por premiar e trazer maiores dividendos eleitorais, gerando fenómenos de fidelidade partidária - e num estado mais avançado caindo numa espécie de "clubite partidária", que a adopção de acções mais contidas e pensadas a longo-prazo.

Numa altura em que assistimos a uma explosão dos meios de comunicação, a passagem de mensagem e a "mostra de trabalho feito" torna-se assim muito importantes. Aliás a lógica de aumento de fundos destinada ao Parlamento, tem por detrás esta premissa. No caso do partido no poder, trata-se no fundo de uma forma de financiamento de meios que o permitam perpetuar-se como o mais votado.

Nesta questão em particular, os círculos ligados ao partido de poder rapidamente acusaram o PND-M de populismo e de demagogia. No entanto, lembramos que esta medida não é virgem e a política de pão e circo há muito que é posta em "marcha" nesta região (e isto dito literalmente). Mas nem vou por aqui, nem vou justificar esta acções com muitas acções similares que já aconteceram por parte de outros partidos. Creio que o método usado não é ético - que diferença entre isto e a compra de votos na antiga Roma?

Mas aqui reconheço que o motivo é maior e nobre e aceito que numa situação limite - como a que aparenta estar a acontecer - também se recorra a armas que o adversário usa e abusa. A fractura social na Região é enorme, o imobilismo social ainda é forte e largas camadas da população continuam a passar ao largo do dito desnvolvimento da "Madeira Nova", com todas as limitações que daí advêm. E esta acção do PND-M veio simplesmente por a nú tudo isso.

2 comentários:

João Carvalho Fernandes disse...

Na altura do voto este gesto pouco vai contar (directamente) a favor do PND. Mas todos perceberam, a começar pelos AJJ's e infiltrados, que é um gesto que veio colocar a nú as deficiências da pseudo-política social do jardinismo, que demonstra claramente que há pobreza na Madeira, isto enquanto os políticos vão aumentando de forma descontrolada as suas despesas. E isso sim, vai contar em eleições!

amsf disse...

Eleitoralmente suponho que o PND não poderá contar com os votos dos "benificiários" deste acto pois as pessoas idosas tem mais dificuldades em mudar e aqueles que o fizerem não serão eleitores de longo prazo (têm mais de 70 anos)! A acção valeu por expor a pobreza e a questão dos custos da ALM!