Tristes dos que acham que a esquerda europeia só vê estas eleições americanas como a escolha do próximo presidente a odiar.
Se realmente o espectro político nos EUA não é muito amplo, nem se denotam grandes diferenças entre republicanos e democratas, mas é verdade que existe um potencial eixo entre democratas e a esquerda moderada europeia ( relembre-se que os americanos são habitues nos congressos da Internacional Socialista).
Atendendo a este contexto parece evidente que o resultado das eleições pode em muito alterar ou pelo menos afectar o futuro a médio-longo prazo. Se há um ano podia-se imaginar um mundo com Merkel, Segoléne, e quiçá Clinton (mrs.)... um mundo no feminino. Hoje parece evidente que podemos estar perante um quadro politico igualmente inovador. A vitória de um negro (qualquer que seja o tom desse africanidade) pode ter um significado simbólico, mas sobretudo politico ímpar. Sobretudo se conseguir derrotar o emergente mito do poder de evangelistas ou mormons nos resultados eleitorais americanos.
A vitória final de Obama poderá ser uma vitória real, e não uma moral daquelas que vemos todos os dias no sargento, no chefe de policia ou juiz negro. Poderá ser uma vitória real da terra das oportunidades.
Pode-se claro discutir que Obama não é tão engajado politicamente com a esquerda como outros lideres no passado, mas a verdade é que Clinton ainda o é mesmo e poderá mesmo estar refém de alguns lobbys.
Nesta primeira década do século XXI que se aproxima rapidamente do fim, a falta de referências políticas é preocupante e poderá levar cada vez mais franjas da sociedade para o descrédito na classe política e para a abstenção. Obama ao contrário de Hillary tem a vantagem de ser uma nova geração política algo que tem um poder imenso numa imagem de renovação que é necessária.
Obama pode não ser a salvação, mas é uma ajuda significativa.
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Há 1 dia
6 comentários:
Tens toda a razão quando dizes que o espectro político dos states não é muito amplo - em termos partidários e pelo menos a nível "oficial". (mormente pelas feridas ainda abertas de lutas contra regimes de extrema esquerda e extrema direita)
Agora, em relação às diferenças entre republicanos e democratas são, na realidade, gritantes nesta altura nos EUA e não é por acaso que hoje em dia existe uma cisma considerável na população, alimentado pela forte polarização ideológica entre o liberalismo e o conservadorismo (blue states vs red states).
Hoje um liberal ainda é visto por "rednecks" ou "hillbillies" de direita como um traidor moral e da pátria, sendo muitas vezes apelidado de comunista e por aí fora.
Os conservadores por sua vez são associados (em termos radicais) a fascistas e ignóbeis globais por parte dos liberais.
Em termos de candidatos, um exemplo da diferença entre lados é o facto de todos os democratas defenderem a retirada imediatada do Iraque enquanto nenhum republicano admite essa hipótese.
O socialismo europeu e o socialismo americano (se assim o podemos chamar) não são a mesma coisa e nunca o socialismo europeu funcionaria num país construido à volta do capitalismo, mesmo que concorde contigo quando dizes que se calhar as relações entre EUA e Europa fossem mais sólidas caso um democrata ganhasse, como o foram na altura da administração Clinton com a Maddie Albright a servir de pau pra toda a obra (e apaga fogos) nesse contexto. Por outro lado se ganhar um republiano penso que poderemos esperar a continuação deste lento e gradual afastamento entre nós e eles, à excepção da fiel Velha Albion, que por mim podia até derivar até à costa atlântica americana.
O Obama representa de facto o protótipo de alguém que não tendo tido um passado particularmente favorecedor, conseguiu subir a pulso, portanto adaptando-se ao tal paradigma americano da "terra das oportunidades" mas em relação a Clinton o grande problema não são os lobbys mas sim o estatuo camaleão que ela tem vindo a cimentar, tentando apelar à direita e à esquerda em simultâneo e levando a que por um lado seja vista como "falsa" pela direita e por outro como "traidora" pela esquerda e nesse sentido Obama é muito mais "engajado" com a esquerda do que ela.
Em relação ao teu último raciocínio acho que tens razão, que a falta de referências que devolvam esperança na classe política ao eleitorado tem sido um problema (tanto em Portugal como nos states - Kerry vs Bush é ridículo, especialmente porque fazem ambos parte do Council of Foreign Relations), e que nesse sentido o Obama possa beneficiar (especialmente com a nojentice que é a associação de celebridades como a Oprah à sua campanha - devia ser abolido este tipo de apoio, assim como o apoio monetário de corporações e as sondagens) de alguma forma por fazer parte duma nova geração, mas não te podes esquecer que o facto da Hillary ser mulher pode também constituir motivo de a verem como uma alternativa e não mais uma personalidade gasta. Quem tá mesmo mal nesse aspecto, são os republicanos, com McCains e afins.
Fica bem, abraço.
P.S. Esqueceste-te da Bhutto no teu mundo dirigido por mulheres, hipótese determinantemente negada de forma (pouco) subtil por intermédio de sinergias obscuras americano-paquistanesas, que desde o 11 de Setembro permanecem livres de investigação.
As diferenças entre o lado republicano e o lado democrata não são assim tão vincadas...Muitos políticos democratas chegam a ter posições mais conservadoras que políticos republicanos, logo essas diferenças não são assim visíveis, havendo mais este constraste de posições consoante o estado (de tendência mais rural ou urbana). Na questão do Iraque pese a habitual colagem democratas "anti" e republicanos "prós", é curiosos reparar que se no início das hostilidades muitos democratas estavam do lado da administração [incluindo a senadora Clinton ou o antigo candidato democrata Kerry], neste momento são várias as vozes doo lado republicano a defender o fim das hostilidades.
Nos EUA o centrão é extremamente forte, até devido ao tipo de sistema existente que privilegia a existência de dois grandes partidos (sistema de eleição em que o vencedor leva todos os delegados do estado por 50+1).
No entanto não desminto que essas diferenças existam e que haja a atendência para a forte polarização dos debates políticos. Depois do erro de 2000, em que a forte votação dada a Ralph Green [candidatura apoiada por muitos do sector artístico e intelectual do país] retirou votos a Gore, houve a tendência para congregação de esforços no candidato do centrão mais favorável, sendo que invariavelmente este surge do lado democrata.
Em 2004 Kerry confiou muito na adesão do eleitorado jovem e urbano, aposta que saiu furada face à forte adesão do bloco evangélico rural [detém na realidade um enorme peso] senbdo que este é muito mais fiel que o primeiro. Depois o contexto de guerra e o défice de liderança que Kerry aparentava ter fizeram o resto.
O facto de Clinton já estar em pré-campanha há mais de 3 anos, pode estar a causar algum desgaste. Obama por outro lado surge como uma pessoa fresca que há partida poderia não gerar tanto consenso quento a sra. Clinton. No entanto, o forte apoio mediático [que se consegue com os tais apoios, que em minha opinião desde que claros e com limites, não os censuro] e o facto de estar a captar apoios em franjas que à partida seriam um "bico d'obra" para a sua candidatura [vitória no Iowa, um estado ruaral branco é de realçar], fazem dele um forte candidato.
Agora não se espere que Obama venha a cortar de vez amarras com a política desta administração Bush. Este afastar será concerteza gradual e Obama provavelmente se centrará na política interna [domínio que Bill Clinton soube dominar com mestria grantindo uma segunda eleição folgada], campo de eleição para os republicanos, mas que esta administração Bush tem descurado um pouco, gerando com a situação do Iraque altos níveis de insatisfação.
Quanto a Clinton, como já disse tem vindo a sofrer algum degaste, em particular por ter estado do lado da administração em assuntos como a ida para o Iraque e afins. Reconheço que à ano e meio pensava que do lado republicano poderia aparecer uma Condolezza, tornando esta eleição numa luta entre Amazonas, mas julgo que o tempo de Condolezza [a braços com uma tentativa desesperada e algo infrutífera de fazer algo de relevo na administração bush, nomeadamente pondo um ponto final na situação do médio oriente] ainda não chegou.
Giuliani é muito liberal aos olhos dos republicanos, Mitt Romney e Huckabee depositam as esperanças no seus eleitorados religiosos [sem o mesmo nível de adesão conseguido por Bush] e McCain surge novamente como possivelemnte o melhor candidato neste momento do lado republicano.
Estas primárias ainda estão no começo e na super terça feira de Fevereiro, veremos quem estará na mó de cima quando cessar a votação em 24 estados.
É no entanto engraçada a forte exposição mediática destas eleições [a profissionalização da política está num outro patamar por terras do Tio Sam], assim como a sua preponderância para o resto do mundo, em especial para nós europeus. Se a ligação à Europa seria ou não melhorada com Obama, tendo em conta o estado da economia interna dos EUA, julgo que não é de esperar grandes feitos neste campo isto sem ter posto a casa em ordem primeiro. No entanto e olhando que o verde é neste momento o novo preto, ou seja está na moda e recomenda-se no topo de qualquer agenda política é de esperar avanços em termos de ratifiucação de convenções ambientais e afins.
Se Obama é ou não a salvação, também não te saberei responder, mas concordo no ponto que simbolicamente e pelo facto de ser negro, se o mesmo chegar ao topo poderá constituir um grande passo e servir de grande exemplo do porquê do epíteto: Terra das Oportunidades.
Aires, a sociedade americana tá completamente dividida numa luta autofágica entre liberais e conservadores, que no fim só servirá para precipitar a população americana para uma grave crise de identidade, em que não existe escala de cinza. Ou é preto ou é branco ou é bom ou é mau, ou é conservador ou é liberal.
Que os candidatos percebam que é demasiado arriscado apelar só a uma parte já é diferente, agora não existe no mundo neste momento uma sociedade tão bipolar.
Depende um pouco do prisma...julgo que essa percepção advém um pouco da forte exposição mediática que esta sociedade tem, juntamente com o peso demográfico da mesma. Uma pequena franja nos EUA constitui uma enorme franja noutros países...
Não estou a dizer que essas divisões não existam, mas até o actual perfil dos candidatos poderá ajudar a refutar essa tendência e ideia, na medida em que acredito que há indícios que os candidatos escolhidos poderão ser aqueles que tendem a congregar e a ir buscar votos precisamente ao outro lado [se bem que é um risco estarmos a falar em candidatos numa fase tão prematura das primárias].
McCain é muito bem visto por muito do eleitorado democrata, assim como Obama, mas especialmente Hillary consegue captar apoios do outro lado.
Em termos de sociedade e de valores [na qual pode-se reflectir na escolha de determinado tipo de candidato], julgo que a diferença estará e residirá nos contextos urbanos e rurais, sendo que o facto de um messianismo protestante ter estado na génese da criação do país [e de muito outras ideias como a ideia da terra prometida e da liberdade em relação a uma Europa na altura muito intolerante neste aspecto], faz agitar muito as coisas...
Mas não tenhamos ilusões. Se existe este confronto de ideias, tal deve-se à enorme liberdade de expressão que este país goza o que possibilita tal confronto de ideias...
Quanto ao facto de ser sociedade mais dividida do mundo, discordo um pouco. Basta ver casos como a Bélgica em que a propria noção de país e de unidade praticamente já não existe...
Bipolar! Não dividida :) Para além da Bélgica, tens a Espanha e uma carrada doutros países com falta de unidade nacional que sabes muito melhor que eu naturalmente...
O resto da discussão concordo com aspectos do que disseste, discordo doutros e ainda relativamente a outros acho que não interpretaste o que disse da forma como queria.
Posto isto sugiro que a discussão prossiga ao vivo numa oportunidade qualquer que tenhamos no futuro, muito provavelmente na noite e inebriados xD
abraço.
Ah só mais uma coisa, a visão que tenho disto tudo é particularmente influenciada pelo que leio em forums americanos de discussão geopolítica e afins e em que as posições tomadas por cada participante são sempre facilmente encaixáveis num ou noutro estereótipo.
Pouco confio nos nossos dias no que é veiculado pelos media, por várias razões.
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