2008-11-06

MANIFESTO “ANTI-PRETOS”: BRANCOS PRETOS E PRETOS BRANCOS



Calma, ao contrário do que o título possa indiciar, isto não é uma demonstração de racismo… Bem pelo contrário… Passo a explicar… Tudo começou com Lewis Hamilton (no ano passado e com corolário no presente) e culminando agora com Barack Obama... Ao Tiger Woods não passei muito cartão, talvez pela novidade do fenómeno naquela altura, e por isso ainda não enjoava…
BASTA! Estou farto! Porque é que isto tem que girar em torno da cor da pele??! Ainda que num tom elogioso, a ênfase desta vitória nas eleições presidenciais americanas tem sido a cor da pele de Barack Obama… “Primeiro presidente afro-americano dos EUA”… Bah!! Ignoremos a perspectiva humanista (jamais vista desde JFK); as medidas para transformar a segurança social numa outra digna desse nome, nomeadamente no sector da saúde; a atitude de aproximação/reconciliação em contraste com a anterior atitude de radicalismo/confrontação internos; a redefinição da política externa com afastamento da postura imperialista e de imposição, virando para o internacionalismo; a política económica baseada na criação de valor real e não nas mais valias artificiais (e voláteis) dos mercados financeiros; as preocupações ambientais... Naaaaaão, centremo-nos apenas no facto de Obama ser preto, ou filho de um preto, ou filho de um preto queniano, que isso é que é importante… Esqueçam tudo o que é verdadeiramente importante… Porque o que interessa mesmo é a cor da pele…

Com esta atitude, os media mundiais transformaram e adulteraram o “Yes we can” da mudança/esperança humanista num outro “Yes we can elect a black president”. Ainda que inconscientemente (ou talvez não), este ênfase e distinção de tratamento só contribui para manter um fosso psicológico social entre brancos e pretos. Como se brancos, pretos, amarelos não fossem todos meras pessoas. PESSOAS, ponto final! Foi um preto que ganhou as eleições? Errado! Foi um cidadão americano, no caso um democrata. Não foi uma cor que venceu, foi uma PESSOA!! Se essa pessoa é branca, preta ou amarela isso é apenas um atributo físico e portanto irrelevante… E nesta perspectiva, dar ênfase ao facto de Obama ser o primeiro presidente preto da história dos EUA é tão relevante como alguém ser o primeiro presidente com um sinal no tornozelo, pêlos nas orelhas ou um queixo com 30cm de comprimento (escrevi queixo porque não encontro uma bolinha vermelha para pôr…).
Podem vir com a historicidade em causa para justificar, mas a verdade, e a meu ver, por mais elogioso que seja o tom, e por melhor que sejam as intenções, isso só contribui para chamar à baila, por um lado os discursos de vitimização e por outro os de racismo. O que deveria ser chamado à baila são as atitudes e as ideias e propostas que os candidatos apresentaram.

E há mais para apontar o dedo! O que é que Hamilton e Obama (e já agora, Woods) têm em comum? São todos café com leite! Nem “verdadeiros” pretos são!! Brancos pretos ou pretos brancos, como queiram. Por isso, quanto muito, as manchetes poderiam ser: “Americanos colocam café no leite presidencial”…

Exige-se portanto que retirem de todas as manchetes e conversas de taberna a palavra preto (ou na sua versão politicamente correcta, afro-americano) quando referindo a vitória de Obama! Não porque seja um insulto mas porque diminui o seu valor, desviando a atenção para algo tão irrelevante (e já expliquei porque é que o argumento da historicidade é contraproducente).

Ah como eu gostaria de ver referido o Hamilton campeão mundial como “aquele que foi mais rápido, agressivo e tecnicamente superior, enfim, o melhor!”. Em oposição a “aquele que foi o primeiro campeão mundial negro da história da f1…

VIVA O OBAMA!!

2 comentários:

bob disse...

Pois penso que cai em falácia, caro amigo. A grande questão aqui é que Obama convenceu precisamente pela sua política e propostas apesar de ser negro. Ou seja, um povo com tradição discriminatória tão grande (confesso que não estive certo da eleição até começar a ver os resultados) finalmente esqueceu essa questão e elegeu quem lhes dava uma maior esperança para os próximos 4-8 anos. É uma grande coisa. É um marco, não te iludas: Até há relativamente pouco tempo a perspectiva humanista, as medidas sociais e política externa teriam sido secundárias para o eleitorado fundamentalista Americano. A grande questão aqui é a seguinte: Obama não foi eleito porque é preto. Obama foi eleito e é preto. Viva o Obama!

il _messaggero disse...

Não diria melhor...

No entanto há que ter em conta a excelente oratória que Obama dispõe!