2010-04-14

Transitoriedade Perpétua

"(...)Um operador de Call Center não luta porque não quer. O emprego é visto como passageiro, uma fase triste da vida profissional que rapidamente passará. Um outro emprego na sua área irá surgir a qualquer altura e, por isso, o facto de o contrato ser de um mês ou de seis até dá força à ideia que o tédio é apenas uma curta fase passageira. Uma boa ilustração deste quadro é a felicitação unânime e efusiva dos colegas quando alguém sai, mesmo que não se saiba para onde: para pior não será, com certeza. Assim, mesmo nas mentes mais combativas, associar-se a um sindicato está fora de questão, na medida em que esse seria o passo determinante para aceitar que este é o seu «ofício». Ninguém quer adoptar essa condição e, por isso, qualquer elo de ligação é sistematicamente combatido. Todos rejeitam a identidade de «call-centristas »: ninguém estudou para isso, é socialmente visto como um dos mais desqualificados empregos dos tempos modernos e portanto humilhante.(...)" in Le Monde Diplomatique - edição portuguesa


Nas linhas de produção do séc. XXI, um estado de transitoriedade perpétua é cultivado e inculcado - os empregos são sempre vendidos como temporários, priva-se toda uma geração de explanar as suas qualificações, desconhecendo-se os efeitos futuros de toda esta situação e de toda esta insegurança vivida. Numa das sociedades mais desiguais da Europa, e tendo o 1º de Maio à porta, vale a pena ler o dossier precariedade do Le Monde Diplomatique.

2 comentários:

amsf disse...

Ai é que está o trunfo do capitalismo. A ilusão de que tudo é transitório, de que é possível qualquer um ver realisadas as suas fantasias e ilusões. Enquanto há vida há esperança! Um sistema político e económico estáctico não dá esta oportunidade aos mais "capazes" e ambiciosos pelo que estes tenderão a combater ou a não "alimentar" um sistema desse tipo.
A percepção é tudo até que a realidade nos caia em cima no entanto a realidade não cai sobre todos simultânemaente nem mais ou menos. Não é necessário que o "sistema" tenha a concordância, a todo o momento, de 100% dos que o integram mas de somente de c/ de 50%.

Jay disse...

EU tambem ja fui "CALL-CENTRISTA"!
Os empregos "vendidos" ou não, são cada vez mais temporarios.. a ideia de "efectivo" para mim, já vale muito pouco.