Depois da falência e cisão entre os principais intervenientes da revolução laranja na Ucrânia, dos tiques nada democráticos mostrados pelos vencedores da revolução rosa na Geórgia, uma súbita anomia e anarquia acontece no Quirguistão* depondo a elite instituída pela revolução túlipa em 2005.
Recorde-se que todas estas revoluções foram assim designadas, numa óptica de não violência, como movimentos que espalhariam e trariam liberdade, democratização e efectiva luta contra a corrupção e nepotismos existentes, na senda do acontecido em 1989 com a revolução de veludo, na antiga Checoslováquia.
Ainda que fosse fácil prever este desfecho, olhando ao contexto vizinho onde o país se insere, com a deposição da elite estabelecida pela anterior revolução - devido aos mesmos motivos - pode-se questionar se não houve uma súbita descoloração democrática que afligiu a zona. Mas fará sentido pensarmos em democracia nos moldes ocidentais, quando os valores histórico-culturais do país e na zona tendencialmente os negam? Será a democracia liberal - ou seja que pressupõe um respeito mínimo pelas minorias e oposições - um valor essencialmente ocidental ou fará sentido considerá-lo um valor universal como muitas vezes assim o é retratado? Fará e trará o intrincado mosaico geopolítico alguma estabilidade à zona?
* Curiosamente o nome Quirguistão significa 40 tribos (na sua bandeira o sol representado tem 40 raios), unificadas por Manas na luta contra os calmucos, cuja história é contada no épico de Manas, o poema tradicional quirguize que data do séc. XV e tem mais de 500.000 versos. Dadas as inúmeras facções e grupos étnicos existentes no país - embora a influência turca seja imensa - acaba por ser um interessante paralelismo face à actual situação vivida.
Recorde-se que todas estas revoluções foram assim designadas, numa óptica de não violência, como movimentos que espalhariam e trariam liberdade, democratização e efectiva luta contra a corrupção e nepotismos existentes, na senda do acontecido em 1989 com a revolução de veludo, na antiga Checoslováquia.
Ainda que fosse fácil prever este desfecho, olhando ao contexto vizinho onde o país se insere, com a deposição da elite estabelecida pela anterior revolução - devido aos mesmos motivos - pode-se questionar se não houve uma súbita descoloração democrática que afligiu a zona. Mas fará sentido pensarmos em democracia nos moldes ocidentais, quando os valores histórico-culturais do país e na zona tendencialmente os negam? Será a democracia liberal - ou seja que pressupõe um respeito mínimo pelas minorias e oposições - um valor essencialmente ocidental ou fará sentido considerá-lo um valor universal como muitas vezes assim o é retratado? Fará e trará o intrincado mosaico geopolítico alguma estabilidade à zona?
* Curiosamente o nome Quirguistão significa 40 tribos (na sua bandeira o sol representado tem 40 raios), unificadas por Manas na luta contra os calmucos, cuja história é contada no épico de Manas, o poema tradicional quirguize que data do séc. XV e tem mais de 500.000 versos. Dadas as inúmeras facções e grupos étnicos existentes no país - embora a influência turca seja imensa - acaba por ser um interessante paralelismo face à actual situação vivida.
3 comentários:
A democracia só funciona em conjunto com o capitalismo, permite à elite manter-se ou conquistar o poder através do capital (maketing político) e aos elementos mais ambiciosos do "povo" sonhar que um dia conseguirão ser elite. A democracia é uma promessa de realização dos desejos e fantasias de cada ser humano, ela é acarinhada enquanto conseguir manter essa ilusão junto da maioria dos cidadãos.
amsf
Etimologicamente, a palavra democracia (Demos + Kratos) até significa o governo por parte do povo, pelo que até poderia suscitar várias interpretações. No entanto, no sentido interpretado pela europa ocidental (que depois é adoptada pelas instituições mundiais e tornado valor universal) esta pressupõe um respeito peloas minorias e oposições. A grande questão é compreender até que ponto esta é tendencialmente aceite em sociedade estruturadas de modo dispar, pese haja a noção que a mesma é altamente maleável e adaptável.
Quanto às elites, obviamente que há a tendência para criarem mecanismos que permitam a sua permanência nos locais de destaque - decorre da natureza humana.
Numa era em que a igualdade, enquanto ideal iluminista e um dos sustentáculos da tríade que esteve na base da Revolução Francesa - que deu as bases para pensamento europeu oidental, é um valor inquestionável e inatacável, podendo ser usada como espécie de testa de ferro, que na realidade esconde mecanismos que a limitam ou invertem o que propala. Nestes termos, a ideia de ilusão é aceite e é até, direi eu, exigida por parte do eleitorado, que não admite que essa possibilidade não exista.
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