2009-06-24

Jovens e a Política


"(...)De acordo com a Visão, o perfil típico do abstencionista é:
- tem entre 18 e 29 anos
- não é casado
- não tem filhos
- não participa na vida do local onde vive, nem sequer nas reuniões de condomínio.
- vive tipicamente em zonas urbanas, no litoral ou nos Açores (...)"

Retive esta passagem de (mais um bom) "post" de Duarte Gouveia ainda sobre o tema das europeias e rapidamente me lembrei de uma temática sobre a qual estou para escrever há mais de um ano, mas que motivos vários, tem ficado sucessivamente na gaveta, a exemplo de muitos outros temas. Falarei então dos jovens e o crónico alheamento da política, um tema que volta em meia aparece nos escaparates e no ideário do debate político.

Num rápido exercício de senso comum, creio que é verificável que as sucessivas gerações de jovens foram sendo catalogadas pelos seus antecessores, como gerações despreocupadas, nada comprometidas, gerações sem uma real noção de valores cívicos. Esta ideia, sempre foi sendo veiculada ao longo da segunda metade do século XX, mesma com gerações que acabaram por vir a ter um grande posicionamento e acção política. Relembro as críticas do "establishment" europeu à geração do Maio de 68 ou as críticas de uma conservadora sociedade inglesa para com o movimento mood dos 60/70 e do movimento punk dos 70/80.

Em Portugal, tal situação igualmente aconteceu com a crítica feita à geração de 60/70 que fez a revolução, mas que em meados de 80/90 criticava fortemente os filhos da revolução, chamando os mesmos de "geração rasca", epíteto dado pelo meu conterrâneo Vicente Jorge Silva, na altura director do Público, criticando a falta de objectivos, de valores, de princípios, mas acima de tudo de sonhos, contrapondo aos feitos da sua geração.

Actualmente vivemos em Portugal sob o espectro da "geração morangos" e novamente as vozes alarmistas se levantam denunciando o desinteresse, a futilidade e a preferência pelo ócio que estas novas gerações têm. Ainda que concorde com certos aspectos (e tenho pouco mais de um quarto de século), acho que convém analisar a situação sob outro prisma, tendo sempre em mente que aqueles que criticam, já foram um dia jovens e foram igualmente criticados.

Ao contrário do que muitas vezes é propalado, este afastamento dos jovens da política não é meramente nacional e é de facto um sintoma comum aos nossos parceiros europeus. Segundo o jornal Público, um estudo revelado no início de abril pela UE, indicava que dos 96 milhões de jovens existentes na faixa etária entre os 15 e os 29 anos, apenas 4% indicava ter participado em actividades partidárias ou sindicais.

Será que aquele valor reflecte um menor envolvimento cívico dos jovens. Certamente não, olhando que o mesmo estudo referia que 49% dos jovens pertencia por outro lado a associações de cariz recreativo ou de outros fins.

Relembro que Tocqueville considerava que a existência de micro-associações [formais ou não] locais, estimulava a participação cívica. Mas é uma realidade que estudos comparados entre as décadas de 70 e 90 [ex: Gundelach e Torpe - estudo sobre realidade dinamarquesa] identificam uma maior adesão a organizações, assumindo no entanto cada vez mais esses participantes uma posição passiva e expectante.

Esta discrepância pode levar a dois tipos de leituras: a completa alienação dos jovens ou a inadaptação do sistema de representação partidário face a este grupo etário. Será que os jovens de hoje renderam-se ao ócio, dando por adquiridos todos os direitos pelos quais as gerações anteriores tiveram que lutar? Ou será que as formas de participação e causas igualmente se têm vindo a transformar, exigindo uma adaptação por parte dos partidos e organizações. Que leitura ter perante e tão baixo cenário de participação? Qual a posição das juventudes partidárias em todo este processo? Haverá novas formas de participação na forja? Tudo matérias para uma reflexão num post que publicarei de seguida (devido à já grande extensão deste).

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