(...)"Mas não tem aproveitado para conhecer escritores?
Tenho conhecido pessoas interessantes. Os outros escritores portugueses é que olham para mim com alguma desconfiança.
-Porquê?
-Acham que sou um intruso. Vim do jornalismo, vendo pornograficamente muito, que é uma coisa que incomoda, e depois não sabem como me hão-de classificar. Não podem dizer que o gajo é "light", porque eu não sou; não podem dizer que o gajo é um grande escritor porque, então, têm de se perguntar o que é que andam aqui a fazer há tantos anos. Também não me preocupo com isso. O meu editor fica de cabelos em pé porque recuso coisas que outros aceitariam.
- Mas não é, só por si, um produto de "marketing"?
- Isso faz-me lembrar o meu editor brasileiro, que às tantas me diz assim: "Vamos trabalhar a 'griffe Miguel.' E eu disse: "Como?!" "Não sei, mas já percebi que você tem uma griffe." Não faço nada para a imagem de marketing. Estou no ar há 30 anos. Tem vantagens e desvantagens. O editor queria lançar uma campanha imensa em "outdoors" e autocarros e eu travei-o. O livro deve ter apenas promoção suficiente para as pessoas saberem que está no mercado.
- Está preparado para a crítica do Vasco Pulido Valente?
- O Vasco Pulido Valente arrasou o Equador sem o ter lido. Dizia que era exotismo, culinária e erotismo. E, passados uns tempos, estive com um amigo comum que me disse: "Sabes que o Vasco não tinha lido o teu livro e eu insisti, 'ó Vasco, mas lê o livro' e o Vasco, 'não, é uma merda'". Até que um dia ele disse que o livro até não era mau. Foi-me contado assim e eu acredito na fonte. Eu sou grande admirador do Vasco. Costumo dizer a brincar que, de facto, só há duas coisas que precisavam ser subsidiadas no país: a agricultura e o Vasco Pulido Valente. A agricultura porque, se não, o país desequilibra-se e tombamos ao mar; e o Vasco Pulido Valente porque aquele pessimismo é necessário. A mim faz-me falta. Eu leio o Vasco e digo: "Também não é assim tão mau!" (risos) Com o seu pessimismo militante, o Vasco contribui para o optimismo de muita gente. Ele escreve maravilhosamente, tem talento e é engraçadíssimo. Agora, só conhece dois países no mundo: Oxford e o Gambrinus. Acho pouco.(...)"
Entrevista de Miguel Esteves Cardoso ao Expresso
resto da entrevista em http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/145035
Resposta do Vasco Pulido Valente
"Um Novo Génio
Há uns tempos, Miguel Sousa Tavares escreveu um romance chamado Equador. Era "um romance de aeroporto" implausível e pueril, que seguia a receita do género: um lugar exótico, longas descrições de paisagens, muito sexo e muita atenção à cozinha e à roupa. Até dois terços, não se lia mal, como se lêem os livros deste género: sem esforço, com meia atenção, para descansar.
No meu caso, li a coisa no hospital, numa altura em que não tinha cabeça para mais nada. Hoje só me lembro, e vagamente, do herói: uma espécie de super-Miguel, um pouco ridículo, com o seu arzinho aristocrático e a sua obrigatória consciência de esquerda. A certa altura, o Equador desapareceu (por falta de espaço) na limpeza de uma estante qualquer e não tornei a pensar no assunto.
Nunca me ocorreu que Miguel Sousa Tavares se tomasse por um escritor. Afinal muita gente, sobretudo em Inglaterra e na América, vive de produzir prosa para consumo de massa, que ninguém confunde com literatura. É uma maneira como outra de ganhar a vida. Honesta, ainda por cima. Mas Miguel Sousa Tavares parece que não se considera light e pretende que o levem a sério. Só isso explica que volte agora a meia dúzia de comentários sobre o Equador (não especialmente lisonjeiros) que publiquei há anos numa carta a este jornal. Para explicar essa minha absurda aberração, Miguel Sousa Tavares revelou ontem ao Expresso que eu, quando o critiquei, não tinha lido o livro e que depois, quando de facto o li, o achei óptimo. Quem lhe contou foi um amigo anónimo, presumivelmente tão analfabeto como ele; e em que ele, claro, piamente acredita.
Fora a acusação de fraude (que me incomoda), Miguel Sousa Tavares trata com condescendência o meu putativo pessimismo e lamenta que o meu conhecimento do mundo não vá muito além de Oxford e do Gambrinus (para quem não saiba, um restaurante de Lisboa). Esta estupidez não é inocente, é profiláctica. Serve para me desqualificar, se por acaso eu disser o que penso (e não disser bem) sobre o Rio das Flores, um segundo romance que já saiu ou vai sair daqui a poucos dias. Mesmo vendendo como vende, Miguel Sousa Tavares não consegue suportar que diminuam o que ele julga ser o seu imenso brilho. A mim, não me aflige que ele se apresente como um génio literário. Desde que não ande por aí a espalhar mentiras."
Vasco Pulido Valente in www.publico.pt (numa coluna de opinião no dia seguinte à entrevista)
Ontem na P2 do Público veio a crítica literária do VPV em relação ao livro do MST - "Rio de Flores" que como é previsível desanca o livro ao longo de 4 páginas...
"Pedimos a Vasco Pulido Valente que lesse Rio das Flores, o último livro de Miguel Sousa Tavares. O romance conta a história de uma família de latifundiários alentejanos na primeira metade do século XX. O historiador, especialista da República, não gostou e diz que o escritor não ilumina a época nem a percebe.
[ínicio da crítica]Numa entrevista ao Expresso, Miguel Sousa Tavares contou um caso, inteiramente imaginário, da minha suposta desonestidade (teria criticado o Equador, sem o ler) e acrescentou alguns comentários desagradáveis. Como é natural, desmenti. Isto bastou para que ele anunciasse por SMS à minha mulher e, a seguir, no Diário de Notícias que "ia dar cabo de mim". Parece que, segundo o critério dele, não "deu", por esta vez, "cabo de mim". Ficou pelo insulto e pela injúria; e pela ameaça implícita de que, se quisesse, revelaria episódios da minha vida pessoal (cinco ou seis) para liquidar a minha figura pública. Nestas digressões Miguel Sousa Tavares não falou uma única vez de um livro meu ou do meu jornalismo.
Excepto sobre o meu "carácter" privado, não abriu a boca. Em cinquenta anos, não me lembro de encontrar um ódio tão inexplicável. Fiquei espantadíssimo e até, num encontro de acaso, lhe tentei falar, para o ouvir e, como lhe disse, para lhe poupar no interesse dele uns tantos disparates no Rio das Flores. Não quis.
Escrevo esta crítica sem prazer. Nada pior do que ler um livro mau, excepto escrever sobre um livro mau. Mas, como se compreende, não podia deixar que a brutalidade de Miguel Sousa Tavares chegasse para me calar.(...)"
Mais que uma crise de habitação
Há 1 hora
1 comentário:
abaixo as telenovelas da TVI, abaixo a literatura light, vamos educar as massas força VPV.
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