"These kid's don't known they're working class; they won't known that until they leave school and realize that that the dreams they've nurtered throught childhood can't come true." The Spirit Level - Why Equality is Better for Everyone (Wilkinson & Pickett) Penguin Books pp.117 Ironia como num raio de 200 metros numa das zonas de maior expansão imobiliária de Lisboa, temos um dos colégios mais selectos do país - segundo consta, a lista de admissão é praticamente impenetrável - temos uma escola pública num bairro degradado, com parcas condições para não dizer deploráveis, e no meio, entre as duas numa mera distância de menos de 100 metros, temos com um antigo armazém degradado que serve de abrigo a toxicodependentes que ali livremente se deslocam e pernoitam, havendo pouca ajuda disponível (pelo menos a nível visível) para reabilitá-los. Isto acontece em plena Lisboa (não vou nomear o sítio), mas poderia acontecer em qualquer parte do país.
Estive hoje na tal escola do bairro carenciado, pese toda a disponibilidade e boa vontade evidenciada pelos auxiliares e membros de ATL, ao olhar para aquelas crianças e ao ver aos seus pais, a primeira ideia que me ocorreu foi precisamente o título que pontua este texto.
O contexto social, a disponibilidade financeira dos pais, o grau de confiança existente na comunidade onde a criança interage e os estímulos que a mesma recebe, são tudo factores que influem no desenvolvimento das crianças, tendo um real impacto nas sua vidas adultas.
Sociedade altamente desiguais como a nossa, apenas estimulam e agravam estas disparidades, contruíndo uma abstracção de sociedade onde uma parte vive numa espécie de redoma de vidro longe de todas as adversidades, dentro dos seus condomínios e uma outra parte vive em quase estado de sítio, em contextos onde a confiança e segurança não abundam, repercutindo-se isso numa espécie de ciclo vicioso que afecta todos os aspectos da vida, afectando e quebrando os naturais e solidários laços que uma saudável sociedade deve possuir.
Um pensamento a ter em conta, quando num contexto de crise, são propagados argumentos populistas e demagógicos, como cortes em programas estatais no campo da assistência e na correcção de assimetrias existentes, numa pura lógica economicista sem olhar aos efeitos que tal medidas faria.
O ataque às consequência e não às causas, como p.e. os argumentos securitária e autoritários muitas vezes implicam, é outra característica da opção por lógicas suicidas a curto-prazo que nada farão se o problema não for abordado na sua raiz e numa lógica a longo-prazo.
Até porque as consequências advindas de uma sociedade mais desigual, não só afectaram os estratos mais baixos dessa mesma comunidade, como afectaram todos os outros, diminuindo a qualidade de vida, tornando menos solidária e confiante toda a sociedade (mais desconfiada e menos altruísta) e tornando em última instância, mais onerosa para o Estado a manutenção de certas operações vistas como essenciais (segurança, custos com saúde, etc.).
A redução desta disparidades, deveria ser assim vista como prioridade máxima.
Assim de repente, depois deste texto e sabendo-se as terríveis disparidades no nosso país - assim como a lógica adoptada, afinal de contas não constituirá assim tão grande ironia a existência destas contradições num curto raio de espaço. Isso é algo que uma grande parte da nossa classe dirigente ainda não se deu conta. Fazia bem saírem da redoma de vidro de vez em quando.