O Síndrome de Estocolmo é o nome dado a um estado psicológico particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de raptos, manifestando-se normalmente por uma simpatia ou tentativas da vítima em se identificar com o raptor.
Tendo estado no poder na Suécia em 65 anos, nos últimos 78 anos, os sociais democratas sofreram uma segunda derrota consecutiva pela primeira vez desde a década de 30. Tido frequentemente pela esquerda como o país modelo do Estado Providência, a derrota da coligação que integrava os sociais-democratas, tidos como os guardiãs deste modelo, suscitou várias reacções e interrogações dos mais variados quadrantes, havendo quem já indique que este é meramente um indício do fim de uma era, vislumbrando alguns o fim do chamado Modelo Social Europeu.
Baseando o modelo numa elevada carga fiscal, sustentando um sistema proactivo com serviços públicos de excelência que acompanham o cidadão durante toda a sua vida [o chamado "from cradle to grave"], este país, através da acção em espacial do antigo primeiro ministro Olaf Palme, combinou este sistema com uma economia de mercado bem liberalizada.
Poderia efectuar uma contextualização histórica mais extensa, afinal de contas, todo este processo foi gradual e a própria criação e maturação do modelo assentou na adopção precoce de medidas de previdência, algo aceite por ambos os lados do espectro político, assim como a existência de uma estreita relação entre uma forte sindicalização da população e a adopção de vias dialogantes com o poder vigente, redundando num modelo societal com altos níveis de solidariedade e senso de comunidade, mas importa reter que neste momento a Suécia é o país do mundo com a maior taxa de população que é possuidora de acções - cerca de 25%. Mais, se adicionarmos a propriedade de algum fundo de investimento ou de pensões, esta taxa dispara para os 80% da população.
Daí que o título deste texto - que retirei do editorial desta segunda feira no Guardian - faça todo o sentido. Num modelo altamente protector, mas dispendioso, e com uma economia de mercado altamente liberalizada, a população sueca, que pelos padrões acima pode-se considerar abastada, acabou por ficar com pulsões mais individualistas e Torbjörn Nilsson, jornalista do semanário sueco Fokus, num artigo antes das eleições, prevendo uma vitória do bloco de centro-direita, questiona-se se "será que o conceito de ética no trabalho [tão afecto ao modelo anglo-saxónico] se sobrepôs ao da igualdade solidária?".
Esta poderia ser uma leitura algo simplista - afinal de contas há mais factores que ajudam a explicar a derrota dos sociais-democratas suecos, entre os quais um primeiro mandato do bloco de centro-direita que pouco ou nada mudou o modelo social vigente, quer a capitalização do descontentamento de franjas da população face ao desemprego crescente, num país onde 14% da população é imigrante, explicando assim a rápida subida da extrema-direita dos Democratas da Suécia - mas levanta-nos uma série de questões, que remetem-nos em alturas de crise, para o questionar da própria sustentabilidade económica de sistemas solidários de previdência como os europeus - que entre si já são algo díspares, isto numa altura em que as condições demográficas e económicas que os proporcionaram se alteraram radicalmente. Que reformulações e adaptações possíveis sem que se perca este vínculo comunitário?
(continua)
Tendo estado no poder na Suécia em 65 anos, nos últimos 78 anos, os sociais democratas sofreram uma segunda derrota consecutiva pela primeira vez desde a década de 30. Tido frequentemente pela esquerda como o país modelo do Estado Providência, a derrota da coligação que integrava os sociais-democratas, tidos como os guardiãs deste modelo, suscitou várias reacções e interrogações dos mais variados quadrantes, havendo quem já indique que este é meramente um indício do fim de uma era, vislumbrando alguns o fim do chamado Modelo Social Europeu.
Baseando o modelo numa elevada carga fiscal, sustentando um sistema proactivo com serviços públicos de excelência que acompanham o cidadão durante toda a sua vida [o chamado "from cradle to grave"], este país, através da acção em espacial do antigo primeiro ministro Olaf Palme, combinou este sistema com uma economia de mercado bem liberalizada.
Poderia efectuar uma contextualização histórica mais extensa, afinal de contas, todo este processo foi gradual e a própria criação e maturação do modelo assentou na adopção precoce de medidas de previdência, algo aceite por ambos os lados do espectro político, assim como a existência de uma estreita relação entre uma forte sindicalização da população e a adopção de vias dialogantes com o poder vigente, redundando num modelo societal com altos níveis de solidariedade e senso de comunidade, mas importa reter que neste momento a Suécia é o país do mundo com a maior taxa de população que é possuidora de acções - cerca de 25%. Mais, se adicionarmos a propriedade de algum fundo de investimento ou de pensões, esta taxa dispara para os 80% da população.
Daí que o título deste texto - que retirei do editorial desta segunda feira no Guardian - faça todo o sentido. Num modelo altamente protector, mas dispendioso, e com uma economia de mercado altamente liberalizada, a população sueca, que pelos padrões acima pode-se considerar abastada, acabou por ficar com pulsões mais individualistas e Torbjörn Nilsson, jornalista do semanário sueco Fokus, num artigo antes das eleições, prevendo uma vitória do bloco de centro-direita, questiona-se se "será que o conceito de ética no trabalho [tão afecto ao modelo anglo-saxónico] se sobrepôs ao da igualdade solidária?".
Esta poderia ser uma leitura algo simplista - afinal de contas há mais factores que ajudam a explicar a derrota dos sociais-democratas suecos, entre os quais um primeiro mandato do bloco de centro-direita que pouco ou nada mudou o modelo social vigente, quer a capitalização do descontentamento de franjas da população face ao desemprego crescente, num país onde 14% da população é imigrante, explicando assim a rápida subida da extrema-direita dos Democratas da Suécia - mas levanta-nos uma série de questões, que remetem-nos em alturas de crise, para o questionar da própria sustentabilidade económica de sistemas solidários de previdência como os europeus - que entre si já são algo díspares, isto numa altura em que as condições demográficas e económicas que os proporcionaram se alteraram radicalmente. Que reformulações e adaptações possíveis sem que se perca este vínculo comunitário?
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