Ocorreu pelos últimos dias um golpe de estado em mais um país da América Central. Até aqui, nada de novo e poderia-se considerar que era apenas a perpetuação de uma longa tradição de tomadas de poder e intromissões do Exército na condução dos destinos de cada país, situação aliás que tem raízes que remotam até Símon Bolívar.
No entanto, o que que é interessante verificar, é o estranho unamismo que se criou na condenação deste acto. Zelaya como se sabe, era um indefectível seguidor da linha boliviriana chavista. A condenação do acto por parte de Obama e a ausência de apoio ou neutralidade para com o perpetuadores do ataque por parte dos EUA, acabam assim por constituir um corte com o passado recente.
Enquadrar-se-à esta posição de Obama numa simples extensão do seu discurso idealista ou estará meramente a tentar contrapor o enorme ascendente que Chavez possui no continente? Não é segredo para ninguém, que durante séculos [posso seguramente já usar a expressão], os EUA consideraram a América Latina como seu território de influência, escudando o mesmo a ingerências externas - célebre teoria Monroe [de que já aqui falamos].
A coberto desta situação, foi dada imensa cobertura a elites oligarcas locais que por meios dictatoriais [na esmagadora maioria dos casos] se perpetuaram no poder, escudando os interesses dos EUA numa primeira, quer numa segunda fase, contendo os ímpetos de uma possível contaminação comunista do continente.
Neste caso, as restricções aplicadas a Cuba [ainda existente devido ao enorme lobby anti-castrista de Miami] são um puro exemplo do que falo. Mais atropelos às mais elementares regras de democracia foram aplicados [ex. Chile em 1973], fazendo com que a América Latina rapidamente se tornasse uma espécie de besta negra ou caixinha dos horrores, nada condizentes com a mensagem e postura moralmente superior, que uns EUA defensores da liberdade pretendiam passar.
A América do Sul é um continente muito desigual. Com cerca de 80% da população urbanizada, mais de metade dos seus munícipios [ou unidades administrativas equivalentes] são rurais e tem menos de 5000 habitantes. Isto gera, conforme devem imaginar graves desiquilíbrios. A protecção dada pelos americanos, às minoria que se arrastou pelo poder durante décadas, ajudou a fomentar ódios de estimação, assim como populismos que com razão ou não, souberam aproveitar estes sentimentos.
Daí a minha questão sobre esta mudança de atitude de Obama em relação à América do Sul. Ainda para mais quando o presidente em questão pretendia alterar a constituição, para efectuar um referendo popular para poder se recandidatar a novo mandato. Será que estarão por detrás questões de pacificação interna da região? Será esta uma medida que visa agradar à crescente preponderância [em termos demográficos - 11% na actualidade, mas 22% em 2025] hispânica no "melting pot" que são os EUA? Haverão questões comerciais - petróleo, mercado livre da ALCA - por detrás desta posição? Ou procurará Obama meramente contrapor a crescente preponderância de Chévez na região?
Tudo questões interessantes que são levantadas, mas não deixa de ser estranho este estranho unamismo existente, deixando assim Chávez sem alvo para poder disparar à vontade.
A propósito do tema: Europas
No entanto, o que que é interessante verificar, é o estranho unamismo que se criou na condenação deste acto. Zelaya como se sabe, era um indefectível seguidor da linha boliviriana chavista. A condenação do acto por parte de Obama e a ausência de apoio ou neutralidade para com o perpetuadores do ataque por parte dos EUA, acabam assim por constituir um corte com o passado recente.
Enquadrar-se-à esta posição de Obama numa simples extensão do seu discurso idealista ou estará meramente a tentar contrapor o enorme ascendente que Chavez possui no continente? Não é segredo para ninguém, que durante séculos [posso seguramente já usar a expressão], os EUA consideraram a América Latina como seu território de influência, escudando o mesmo a ingerências externas - célebre teoria Monroe [de que já aqui falamos].
A coberto desta situação, foi dada imensa cobertura a elites oligarcas locais que por meios dictatoriais [na esmagadora maioria dos casos] se perpetuaram no poder, escudando os interesses dos EUA numa primeira, quer numa segunda fase, contendo os ímpetos de uma possível contaminação comunista do continente.
Neste caso, as restricções aplicadas a Cuba [ainda existente devido ao enorme lobby anti-castrista de Miami] são um puro exemplo do que falo. Mais atropelos às mais elementares regras de democracia foram aplicados [ex. Chile em 1973], fazendo com que a América Latina rapidamente se tornasse uma espécie de besta negra ou caixinha dos horrores, nada condizentes com a mensagem e postura moralmente superior, que uns EUA defensores da liberdade pretendiam passar.
A América do Sul é um continente muito desigual. Com cerca de 80% da população urbanizada, mais de metade dos seus munícipios [ou unidades administrativas equivalentes] são rurais e tem menos de 5000 habitantes. Isto gera, conforme devem imaginar graves desiquilíbrios. A protecção dada pelos americanos, às minoria que se arrastou pelo poder durante décadas, ajudou a fomentar ódios de estimação, assim como populismos que com razão ou não, souberam aproveitar estes sentimentos.
Daí a minha questão sobre esta mudança de atitude de Obama em relação à América do Sul. Ainda para mais quando o presidente em questão pretendia alterar a constituição, para efectuar um referendo popular para poder se recandidatar a novo mandato. Será que estarão por detrás questões de pacificação interna da região? Será esta uma medida que visa agradar à crescente preponderância [em termos demográficos - 11% na actualidade, mas 22% em 2025] hispânica no "melting pot" que são os EUA? Haverão questões comerciais - petróleo, mercado livre da ALCA - por detrás desta posição? Ou procurará Obama meramente contrapor a crescente preponderância de Chévez na região?
Tudo questões interessantes que são levantadas, mas não deixa de ser estranho este estranho unamismo existente, deixando assim Chávez sem alvo para poder disparar à vontade.
A propósito do tema: Europas
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