2009-11-24

Desbobina em versão "Ostie"



"Quem lá vive, faz a sondagem do coração: Berlim é a cidade da Europa para onde toda a gente quer ir. Por causa da noite, da cena artística, da história. Mas se Berlim é onde se quer ir, Berlim Leste é onde se vai parar"

in Diário Económico


"Berlim é especial. E digo isto como um elogio. Um elogio fácil que muitas vezes faço a esta cidade. Mas é um elogio. Um elogio, apesar do Inverno escuro e frio, do Verão tropical e imprevisível, das elevadas taxas de desemprego, criminalidade e pobreza, das demoradas obras públicas, vítimas de um Senado falido e, claro, da falta de praia… É um elogio que se soma aos comummente feitos à oferta cultural existente a todos os níveis, aos preços baixos, à diversidade étnica, à tolerância, aos diferentes estilos de vida, aos verdes parques e aos apetecíveis lagos, aos constantes tropeços na história da Guerra Fria e à onda cool que atravessa os diferentes bairros da cidade, mantendo cada um a sua originalidade. Mas é principalmente um elogio pelas surpresas que a cidade vai oferecendo a quem tem a sorte de por cá passar. Uma dessas muitas surpresas é a Berlim abandonada. Uma Berlim que se distancia de tudo o resto. São espaços parados no tempo. Locais pelos quais a história passou, ou que por ela passaram e que agora, por uma razão ou por outra, se encontram obsoletos, vazios e desprezados. É uma Berlim que não se encontra nos guias turísticos e cuja existência dificilmente se explica na capital da maior economia europeia (...)"

elogio a Berlim by Carregador de Piano



Post Scriptum: Uma das características mais interessantes que os três anos de existência deste espaço permitem aferir, é precisamente verificar a quantidade de experiências profissionais e académicas vivenciadas por muitos dos nossos (mudos*) desbobinadores, fora do nosso rectângulo à beira mar plantado.

O Carregador de Piano, qual trave mestra numa equipa e encarnando bem o espírito aventureiro e destemido que tão bem nos caracterizou enquanto povo (porventura algo que nos devíamos lembrar mais frequentemente antes de esboçar uma crítica fácil e desmoralizante), é o perfeito exemplo do que falo. E muitos outros desbobinadores aqui poderia citar e muitos outros destinos poderia indicar. Aproveitando a brecha mediática, mostro o mesmo apanhado numa reportagem nas celebrações da queda do Muro. Numa Berlim vibrante que 20 anos depois representa esperança e um forte sinal que as barreiras não são imutáveis ou inquebráveis. Numa Berlim que 20 anos depois representa a esperança de um futuro melhor e o atingir de uma realização pessoal. Tal como o João pretende atingir em Berlim. Tal como muitos de nós o tentamos efectuar seja lá qual seja o nosso paradeiro ou percurso [muitas vezes difuso ou tortuoso].



1 comentário:

DK disse...

Infelizmente, apesar de concordar de certa forma com o que é escrito aqui, a Berlim verdadeira e única já morreu. Tornou-se mais uma Barcelona, que em 3 anos terá todos os expats jovens da moda a mandar as rendas pracima sem que os punks da frankfurter allee ou os okupas da SW36 consigam fazer nada, por mais carros que ardam. Há dias assisti (completamente por acaso enquanto ia lavar roupa porque a máquina de lavar que saquei de borla duma rua em F'Shain foi ao ar em 3 lavagens) a mais um exemplo disso: 30 a 40 carrinhas da polícia estacionadas a bloquear uma rua, e todos os okupas desokupados dum prédio perto de rosenthaler platz. Para substituí-los inquilinos de primeira classe dentro dum condomínio de luxo num futuro próximo. A selvajaria capitalista (isto não é uma crítica, deixo isso para os analistas políticos - uma estirpe soturna que abandonei aos 14 anos) já corroi a cidade de leste a oeste, arrasando mais uma cidade pela medida normalizada ocidental. E é irreversível, como prova a história recente das cidades europeias. Entretanto continuam algumas miragens como o Tacheles, por exemplo, um sítio que qualquer pessoa deveria visitar em Berlim. De resto a diversidade/dinâmica cultural/ artística continua, não mais na sua forma pura mas em moldes comercialmente instigados. Não que tenha alguma coisa contra isso mas do pouco que sei como puto pixote, a arte faz-se melhor (se sequer existe outra maneira de a fazer) quando flui por reflexo, seja qual for a sua manifestação.

Basicamente isto arrisca-se a correr para o pretensiosismo de Barcelona, mas na base do cenário dark industrial subversivo e não no glamour cosmopolita de bcn - talvez a espelhar um sinal dos tempos.

Mas é uma cidade do crl :)