Marchas e Manjericos...porquê?

...como já disse anteriormente, as festividades dos três santos estão impregnadas de rituais e ritos que serão imperceptíveis para a vasta maioria das pessoas que os realizam por altura destas festas...

Ontem, ingenuamente cheirei um manjerico e fui logo repreendido pelos donos do mesmo, pois esta acção provocaria a morte desta planta no dia seguinte...
Ora, já com algumas cervejas na cabeça, não deixei de me pôr a teorizar acerca da origem deste mito e qual caçador de mitos, fiquei com essa ideia na cabeça e encetei hoje o trabalho de procurar mais dados acerca deste facto (escusado será dizer que a informação estava toda dispersa)...
Em primeiro lugar e porque não conseguimos descortinar logo na hora, qual o uso dado ao manjerico, o manjerico é uma espécie de "primo" afastado do manjericão, sendo uma erva aromática usada em culinária...até aqui nada de mais...

Esta planta enquadra-se no entanto, na mesma categoria do alecrim ou do alho porro, sendo considerada uma "plantas benfazeja" - retirei dum sítio brasileiro, mas também vi esta designação numa entrevista a um professor universitário português - que no fundo é uma planta de boa sorte, uma planta que traz uma energia positiva, sendo ao mesmo tempo símbolo de fertilidade e de bonança e escudo contra as forças exteriores negativas - o que na Madeira designamos de "mau-olhado"...

A calendarização destas festas, tem uma razão de ser. Não é à toa que estas festas se realizam no mês do solistício de Verão, numa altura em que os dias são maiores. Pela sua carga simbólica, este solistício sempre foi considerado, como um períodos de celebração e exaltação pelas colheitas conseguidas e pela produtividade das terras, tendo uma origem muito remota... Paralelamente começou a exultar-se a fertilidade humana, daí a existência das plantas aromáticas como a cidreira, alfazema e o tão afamado manjerico - que a tradição popular encarregou-se de perpetuar através do hábito dos jovens entregarem isso às suas amadas...

Obviamente estas celebrações pagãs foram adoptadas pelos cristãos (da mesma forma que usaram e aproveitaram o dia 25 de Dezembro para dia do nascimento de Jesus; que estabeleceram roma como a cidade do representante máximo da Igreja, etc.), sob a forma das festas em honra a Santo António, São João e São Pedro, que são referidos pelas crenças populares como os três santos casamenteiros...

Não se conseguindo despir da aura pagã, estas festas - as "Maias", que consistiam também em cânticos litúrgicos em honra aos três santos, realizadas em Maio - foram proibidas no século XVI pelo Rei D.João I.

Mas a tradição não se perde e o povo transfere esta animação toda para a 5ª feira de ascensão de Jesus aos céus - vulgo o dia do Corpo de Deus - perpetuando todas estas tradições para esta época...
No fim do séc.XVIII, os franceses iniciam a moda de dançar em marchas militares, celebrando assim a tomada da Bastilha, desfilhando em marchas com archotes na mão - chamando Marche aux Falambeaux...
Com as invasões napoleónicas, para além dos valores da Revolução Francesa, ficou este costume tendo o povo "aporteguesado" a palavra para Marcha ao Flambó - depois obviamente a segunda parte da designação caiu em desuso...Só que em vez de usar archotes, começaram a usar balões de papel e fogo de artíficio vindo da China - muito em voga em inícios de séc. XIX...

As Festas transferem-se novamente para Junho desde essa altura, celebrando-se desde aí os três santos populares...

O saltar à fogueira - tão comum nesta altura - é também um símbolo antropológico que significa fertilidade, o que vem dar força à teoria que venho veiculando...

Esta conjugação de factores explica o porquê destes santos serem designados por santos casamenteiros...

fontes: http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/tag/origem+marchas+populares e alguns blogs e sítios de onde retirei alguma informação a avulso...