2007-06-03

a Metamorfose...ou talvez não...

A 5ªconvenção do Bloco de Esquerda realizada neste fim de semana, e os sinais emanados desta, deram alguns dados que são muito interessantes e provam claramente uma teoria:

- um pequeno partido que aspire crescer e tornar-se num partido de massas, terá que pôr um pouco de lado a bandeira das causa e flectir um pouco ao centro (radicalizando cada vez menos o seu discurso), pois é nesse estrato que o grosso dos votos estão...

A suposta social-democratização deste partido, foi um facto amplamente discutido na imprensa (basta dar uma vista de olhos aos artigos de opinião dos principais jornais portugueses neste fim de semana), e no fundo mostra as reais raízes do BE. Desde a sua fundação, assumiu como suas muitas das causas sociais que foram discutidas, retirando daí os respectivos dividendos políticos, mas por outro lado com isso pôs de parte as aparente contradições que poderiam existir numa fusão entre um partido de índole "trotskista" - PSR, outro de índole maoísta e com historial de simpatia com o antigo regime albanês - UDP, e finalmente com a Política XXI - grupo de dissidentes do PCP, seguindo uma vertente marxista-leninista.
Foi este assumir das causas sociais - numa época em que a ideologia tem cada vez menos importância - que redundaram no sucesso que este pequeno partido vem tendo.
Paralelamente, a colagem aos fóruns sociais e alternativos (a colagem à alter-globalização), numa altura em que este tema é cada vez mais discutido, assim como a política de não se apropriar do monopólio de luta abrindo o partido a parcerias com os mais variados quadrantes (ao contrário de uma concepção algo obtusa que o PCP continua a ter), foram outros factores que fizeram florescer este partido...

No entanto, para crescer o partido terá de se voltar cada vez mais ao centro, ocorrendo assim a tão evitada social-democratização que vários sectores do partido querem evitar...Agora a questão que coloco: Será possível continuar a conciliar a política das causas, continuando a declarar a guerra ao capital, mas optando por uma discurso cada vez mais radical, continuando com um vazio ideológico, sem se entrar numa deriva social-democrata? Eu pessoalmente julgo que será muito díficil, mas confesso que estou curioso para ver...

Numa altura em que as alterações climáticas passaram para o topo das preocupações mundiais (basta ver a declaração de Sarkozy na França ao proclamar esta uma preocupalção central do seu governo, numa atitude algo inédita em França), é engraçado ver que tanto o BE como o PP de Portas, souberam ler nas entrelinhas e assumem publicamente estas temáticas como temas fulcrais. Será apenas uma questão de se manter na crista da onda?

Dou mérito ao BE pela forma que soube prever o peso cada vez maior que os movimentos de cidadania estão a ter no panorama algo desgastado de um sistema político practicamente monopolizado pelos partidos políticos...Agora, será que o seu crescimento não subverterá e apagará essa abertura que este partido revela, acabando o partido por cair no erro de tantos outros?

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