2011-07-22

isto não é da "troika"

passado
um terço dos deputados tinha assento em empresas do estado, propondo posteriormente leis que as favoreciam. os gestores portugueses são dos menos qualificados na OCDE. os gestores que apresentaram gestões evidentemente danosas nunca foram responsabilizados pelas suas acções. portugal gasta em educação mais do que a média europeia e apresenta os piores resultados.a economia paralela encontra-se em crescendo. o «povo» habitou-se facilmente aos direitos adquiridos mas nunca aos deveres necessários. o «povo» aceitou ser chamado «povo», apesar da evidente estratificação que isso significa.
o passado é o nosso presente.


presente
o governo baixou as indemnizações em caso de despedimento. o governo vai cortar até 50% nos subsídios de natal (mesmo para os que não o recebem). o governo quer aumentar 15% nas tarifas de bordo e passes sociais dos transportes.o governo desiste das golden shares. o governo fecha as escolas que achava que não deviam fechar há três meses. o governo prepara-se para alienar património a preço de revenda. o governo privatizará apenas os organismos que dão lucro. o governo nomeia toda uma nova administração para a CGD (de profunda confiança política) e mantém em funções o anterior presidente. o governo não cobra nenhum imposto especial sobre a banca. o governo... 
o presente arruína o nosso futuro.

futuro
ser ou não ser pessimista? a europa está em crise. faltam figuras de referência. faltam valores. falta europeístas. e, contudo, nunca fomos tão europeus como hoje. os jovens viajam, estudam, trabalham por toda a europa. acreditam nela. e os políticos? a política que temos é o triste resultado de um jogo que perdemos por falta de comparência. os «maus» apenas ganharam porque ninguém vai a jogo. todos os jovens descem a avenida da liberdade, fazem acampamentos e são contras as provas globais da nossa vida, mas nunca fazem política. a nobre política perdeu-se, e apenas sobram os reles interesseiros das juventudes partidárias. e compensa? claro. nem que tenham que passar pela presidência d'os belenenses para fazer tempo.
e hoje vejo que não houve passado. foram muitos anos de ditadura. demasiados. mas ninguém saiu deles. os portugueses continuaram presos à ditadura, nem que seja a da posse, a do querer mais, a do sonho de ter um trabalho para a vida, casar, comprar casa, ter 2,1 filhos. todos provincianos. como salazar quereria. e muitos dos jovens, aqueles que são dos mais qualificados que portugal já teve, continuam a querer o mesmo. o mesmo que os pais: um trabalho das 9 às 5 e um fim de semana no colombo.
o caminho não é a rua. nem a revolução. nem mesmo a falência de países, partidos ou sistemas económicos. uma das soluções passa pela acção de todos: nas eleições, nos orçamentos participativos, no apoio ao próximo, quer seja colega ou estranho. e passa por menos cigarros, cafés e pausas para conversar. chega de conversa. é hora de trabalhar a 100%. de confiar. de acreditar. e, ao mesmo tempo, julgar nos órgãos competentes os que falharam; de políticos, a gestores, de serventes a policias ou juízes. sem sangue. sem guerra. nem violência. é hora, portugal. e a  nossa acção não pode depender do que vai ser o pior governo desde o 25 de abril. o ultraliberalismo económico vai atingir níveis nunca antes vistos. porquê? porque vai ser possível comprar mais por menos. porque em portugal há bons produtos. porque é possível fazer dinheiro com portugal. e todos o sabem.

tudo isto é apenas mais um desabafo. daqueles que surgem da revolta de quem não atira a primeira pedra. eu sei que nada vai mudar amanhã. sei que vão continuar a despedir ou diminuir ordenados por email, vão dispensar os assistentes, os empregados mais frágeis, sem perceber que não são aqueles 450 ou 600 euros que dão cabo da empresa. que as empresas são é muitas vezes mal geridas. não me custa ver um mexia a ganhar muito se ele for mesmo bom. porque também pagará impostos sobre esse valor. mas custa ver o empresário que ganha o "ordenado mínimo", e o que mata um pais é a distribuição injusta e desequilibrada das injustiças e esforços. a banca tem que pagar. os maus gestores, médicos ou advogados têm que pagar. os bons têm que ser premiados. isto é apenas mais um desabafo. eu sei que nada vai mudar...
porque o futuro não chegará amanhã.

nota: publicado inicialmente no "nem vale a pena dizer mais nada"

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