"Não vou ser candidato""Ao fim de 10 anos de trabalho no Parlamento Europeu, não faz muito sentido que quem foi na última eleição em quinto, seja agora oitavo"
"Não aceito a lei da paridade como justificação. Não é suficiente para atribuir ao PSD-Madeira esse lugar"
Sérgio Marques dixit
"(...)"Já está resolvido. O candidato ao Parlamento Europeu, no mesmo 8º lugar, é o senhor dr. Nuno Teixeira".
"Não quer um, vai outro. A única pessoa importante neste partido sou eu".
"Não, ele disse-me agora antes de começar a Comissão Política. Não aceita, também não peço nada a ninguém. Surpreendeu-me pela maneira de ser dele (Sérgio Marques). Não o julgava capaz disto"(...)"
AJJ dixit
Sérgio Marques é reconhecidamente, e num puro exercício de sondagem sem qualquer tipo de rigor científico, um dos nomes laranjas cujo trabalho e capacidade de iniciativa não é posta em causa dentro das hostes laranjas regionais, tendo o eleitorado opositor geralmente uma uma boa imagem da sua prestação política.
O facto de estar há 2 mandatos exilado na Europa, logo longe quer da vida política regional, quer do desgaste de imagem que a mesma produz, aliado à boa publicitação do seu trabalho - é dos deputados laranjas que mais investe nesta área, em especial na área das novas tecnologias - dos primeiros a estar na blogosfera, usa redes sociais para contactar eleitores [Facebook no caso], etc. - faz com que a imagem tida dele seja em geral positiva, não havendo grandes máculas sobre a sua imagem.
Numa primeira leitura simplista, face às palavras caústicas de Alberto João Jardim confrontado com a recusa, poderíamos considerar que Sérgio Marques tenha assinado a sua certidão de óbito político, pelo menos no seio do PSD-M, devido à "heresia"de ter ousado enfrentar o líder. Uma pessoa menos atenta à vida política na Madeira, pode achar que estou a exagerar, mas convém recordar que Jardim nunca foi grande adepto de debate interno ou de muitos desvios à ortodoxia da sua palavra.
Por outro lado, outra leitura possível, poderá indiciar esta recusa como uma simples tomada de posição por parte do deputado, que não tendo satisfeito as suas ambições, resolveu tomar uma atitude de força no calor do momento.
Há no entanto diversas nuances que me fazem explorar um outro prisma. Sérgio Marques, como qualquer político, tem as suas ambições e era público [em entrevista recente] que veria com bons olhos a ideia de poder no período pós-Jardim. Por outro lado, temos de considerar o facto de o poder e a alternância do mesmo, ser motivado, pelo menos em Portugal, não por uma vitória da oposição, mas sim pela erosão governativa do partido no poder. Tendo em mente estas duas premissas, num exercício de pura especulação, poderíamos ser levados a pensar que os factos que nortearam esta abrupta decisão poderiam ter mente uma estratégia com horizontes mais latos.
Isto porque com esta decisão e a aparente proscrição (a nível regional), o mais engraçado nesta situação é o facto de Sérgio Marques poder vir a obter a médio-longo prazo enormes ganhos políticos com esta medida, beneficiando com isso o PSD-M. Confusos?
Num cenário de liderança pós-Jardim, Sérgio Marques com esta recusa e pelo facto de perante os olhos da opinião pública, ter afrontado Jardim, pode constituir para o partido uma possível alternativa ou alternativa de reserva, isto quando o jardinismo (ou o que restar dele) deixar de ser a matriz agregadora do partido ou o eleitorado madeirense já não ser sensível ao peculiar estilo de retórica e mensagem.
Em termos de calculismo político, esta poderia ser considerada uma manobra arriscada - sabendo-se que o manancial de apoio do jardinismo é bem grande, a gratidão dos madeirenses é (irracionalmente e inexplicavelmente) devota e o aproveitar da sua imagem e memória, que após a sua retirada serão concerteza explorados e darão votos ao partido laranja pelo menos durante algum tempo.
Mas dado que nada é eterno, quando a alternância estiver na eminência, Marques estaria salvaguardado, aparecendo aos olhos do eleitorado laranja, como uma opção recta e imaculada (vinda fora do sistema), que soube se manter à parte, seja do possível lavar de roupa que previsivelmente se seguirá no interior do partido (e que já aparentemente já decorre - os indícios são muitos), seja das conotações menos claras com o período jardinista.
Marques funcionaria assim como o às de trunfo, num cenário de iminente alternância num contexto eleitoral difícil.
Claro que esta análise tem muitos "ses" e face ao publicamente propalado, não creio que tenha havido este tipo de visão política a longo prazo - estão escritas muitas determinantes não controláveis. Aliás, as próprias ambições a curto-prazo do candidato, ficariam algo lesadas, podendo a sua imagem pública ser afectada (como deverá previsivelmente ficar).
No entanto, não deixa de ser engraçado como uma medida que aparentemente é uma mera tomada de força, poderia no entanto se revestir de uma medida com extrema astúcia e argúcia. Será a análise assim tão descabida e fictional?