Uma das principais características da modernidade talvez seja o paradoxo de os projectos e sonhos de uma vida estarem ao alcance de cada um. À distância de uns cliques. Se por um lado é cada vez mais fácil, e até mais barato, disponibilizar textos, imagens, música a mil e uma pessoas. Conhecidas e desconhecidas. Por outro é cada vez maior a pressão, senão mesmo competição. Ou seja, encontramo-nos hoje a viver uma absurda contradição: o fácil está mais difícil.
É exactamente por isso que os projectos jovens dos jovens são e têm que ser sempre motivo de atenção e destaque. Revistas como a Bíblia ou a Callema têm sempre que ser referidas e relembradas. Para não desaparecerem no fundo baú do depois-logo-vejo-isso. É exactamente por isso que o surgimento de uma nova revista tem que ser motivo de destaque. Cine Qua Non - é a jovem revista com nome de gente grande. Aqui fica ela à distância de um clique... http://www.cinequanon.pt
Ter uma publicação é um desejo de há muito tempo. Construir uma publicação como esta, numa nova era da sua possível reprodutibilidade digital, é consumar esse mesmo sonho mais antigo somado à forte vontade de reunir alunos de estudos artísticos.Reunir artistas. Reunir as artes. Das universidades, dos teatros, dos estúdios, dos ateliês, das salas de espectáculos, das salas de aula vêm alunos de mestrado e doutoramento, professores e artistas que aqui se reúnem na escrita.Unidos pelas artes, aliando a teoria à prática, cá dentro ou lá fora,do palco ou do público, manifestam as suas ideias, as suas dúvidas,as suas certezas e incertezas. As suas inovações. Criações. Explicações. Interrogações.
Interrogada várias vezes sobre o título escolhido, sinto-me na obrigação de o explicar. O título tem uma história que se inicia o ano passado em Amesterdão com uma loja de cinema com o mesmo nome, passa por um título de um filme para um projecto académico e, ganhando uma considerável e agradável saudade e afeição, fixa-se aqui. Cine Qua Non pode assim ser facilmente confundida, logo à partida, com uma revista dedicada ao cinema. Isso é um risco assumido, mas desde já, e para que não restem dúvidas, fica o esclarecimento.
Tomando em linha de conta o pioneirismo de Obama no uso de certos meios e técnicas, questiono-me qual seria o equivalente português de um apanhado "casual" como o de Obama? Sócrates a pedir um Bitoque? Teríamos Sócrates numa mesa de esplanada discutindo o Benfica, tomando imperiais e comendo caracóis?
Que cada vez mais exista uma parte cénica associada à política, sendo esta deveras importante, todos nós já sabíamos. Que a campanha de Obama mostrou muita criatividade e desbravou caminho a muitas tecnicas em "marketing" eleitoral, utilizando por exemplo com muito proveito as novas tecnologias, também era algo que tinha sido constatado.
Agora, numa altura em que com a recessão, é necessário incutir confiança e segurança à população, a sucessão de mensagens sublimes que uma aparente e casual paragem numa casa de hamburgers, pode possuir é algo extremamente interessante. E nisto Obama e a sua equipa têm se revelado mestres. Ainda que escreva com base em suposições, façamos portanto um pequeno exercício de dissecação dos factos.
O simples facto de ter sido escolhido uma pequena casa de hamburgueres e não uma grande cadeia do género certamente não se deveu a uma questão casual, geográfica ou de gosto. Obama pretendeu assim dar um sinal de confiança aos pequenos comerciantes e gestores de pequenos negócios, precisamente aqueles que mais têm sentido esta crise. Por outro lado, para os eleitor comum, Obama passa a imagem de um homem americano comum e mundano. Um homem perfeitamente normal que tem as mesmas preocupações e deveres. Podemos ainda acrescentar que ao preferir uma pequena casa de hamburger a uma grande cadeia, Obama consegue se precaver contra alguma conotação negativa que essas empresas têm na opinião pública (ou evitar a óbvia colagem publicitária que seria feita). Além disso mostra que prefere as pessoas às grandes corporações, demarcando-se da anterior administração.
Ao aguardar na fila, para além de querer descer do pedestal em que é colocado pelo cargo que ocupa, Obama passa uma mensagem aos cidadãos que podemos interpretar de calma e paciência.
Ao querer pagar e ao renegar quaisquer benefícios advindos do facto de ser quem é, Obama para além de passar a mensagem de confiança, passa uma mensagem de incentivo e estímulo à economia, afinal algo que não abunda muito nos dias que correm. O Presidente mostra ao seu eleitorado que é um deles e está disposto a fazer os mesmos sacrifícios que o comum americano.
Mais rebuscado, mas igualmente muito interessante, foi o "!Hola!" que lançou à empregada de origem hispânica que trabalhava no dito local. Não é à toa que este grupo étnico se tem assumido cada vez mais importante para os candidatos e para os políticos nos EUA. Com uma quota actual de 11% de hispânicos, estima-se que em 2025, este grupo representará cerca de o dobro. Daí a premência da discussão nos EUA em tornar ou não oficial o espanhol. Tendo tido o forte apoio da maioria hispânica, o Presidente pretendeu assim com este pequeno gesto, incluir a mesma tornando a parte de um todo assim como demostrar o seu agradecimento.
Nota final para uma imagem que consegui ver na peça da rtp sobre o assunto. O facto de Biden e Obama levarem os sacos de hamburgers para o restante staff. Isto vem novamente passar a ideia da necessidade de meter mãos à obra, sendo isto extensível do mero cidadão ao presidente.
Obama ainda está em estado de graça. Aliás, não obstante os importantes passos tomados, a cena final com a euforia da população perante a sua presença é sintomática dessa aprovação.
Olhando agora à repercussão que esta notícias teve, creio que não é descabido pensar que afinal, esta visita pode não ter sido tão casual como isso. Ao fim de contas acaba por ser apenas uma reciclagem de velhas técnicas astutas de indução sublime de mensagens em política. E se há pessoa que tem tido o dom de efectuar as mesmas com exactidão, essa pessoa tem sido Obama.
post scriptum: Não é de admirar que outros líderes políticos com funções governativas, comecem a ser "apanhados" em situações casuais, mostrando uma faceta de cidadão comum, mostrando uma ligação intrínseca ao eleitorado e população.
Fico perturbado com notícias destas, derrapagem absurda de 40 milhões de euros na construção da Ponte Europa (Rainha Santa Isabel) em Coimbra. O total da obra ascende aos 70 milhões de euros.
Há dias li na revista sábado que os primeiros portugueses a serem alvo de protecção num caso de epidemia, para além do Presidente da República e do Governo, seriam os gestores das empresas públicas porque o país não pode parar...
Eu tenho os meus impostos em dia para isto... Somos um país pobre e não é por acaso.