2012-06-27

Lonesome George



Lonesome George morreu.

Aquele que era considerado o ser mais raro do mundo morreu.

Lonesome George, uma tartaruga gigante das Galápagos, o último sobrevivente da subespécie "chelonoidis nigra abingdonii" morreu.
Ainda jovem. Com a redonda idade de 100 anos. De enfarte cardíaco. Na flor da idade, dizem os biólogos.

Pior do que isso, "Jorge Solitário" - o persona de engate que metodicamente tinha criado (dizem que as miúdas não resistem a um bom sotaque espanhol...) - morreu sozinho. Pobre Jorge.

Vindo dum sítio com Pinta, da ilha com o mesmo nome situada no arquipélago das Galápagos, muitos esforços tinham sido feitos para Jorge juntar os trapinhos. Desde há décadas que tudo e mais alguma coisa era feito. Suponho que no início com saídas a 4 com algum casal amigo. Numa fase muito mais avançada, imagino que recorrendo a agências de encontros. Ou pior, em desespero, já nos últimos anos, investigadores que se diziam amigos, oferecendo 10.000$ a quem encontrasse uma parceira compatível. Ao nível que estes supostos amigos chegaram. A oferecer dinheiro? O Jorge não precisava destas ajudas. Considerava-se viril o suficiente. Tanta pressão no rapaz... Como se não tivessem confiança no Jorge.

Houvesse ao menos algum Santo António que naturalmente valesse a George.

Esta mudança de nome não é em vão. A verdade é que Jorge na maioria das vezes era simplesmente George. O fleumático e muito british George. Muito distante. Muito senhor de si. Frio. De coração de pedra. Sem querer se imiscuir com a dita plebe.
Pese no seu íntimo, desejasse ter o "salero" de um Jorge. Ser um galã como um Jorge. Confiante. Seguro. Quente. Uma espécie de Lucky Luck do amor. Disparando e partindo corações com o seu seis balas.

Mas não. O pobre do George recusou sempre as parceiras que lhe impuseram. Suponho que por princípio. Então tem um homem um esquema já preparado e estão sempre a lhe chatear com parceiras impostas?

Não admira que o rapaz andasse sobre forte pressão e não conseguisse "manejar o pacote" - entenda-se conseguir que alguma Rosarito ou alguma Guadalupe chocasse os ovos.

Em 2008 e após muito custo lá aceitou sair com a primeira. Não era das suas, dizia com laivos de alguma xenofobia. Não o fazia por mal. Ele no fundo era bom rapaz e convém ter em conta que os silogismos de Darwin, são um quase-dogma que nunca é questionado.
No entanto e ainda que fazendo um grande frete, conseguiu gerar 13 ovos, número que talvez prevendo o insucesso e má vontade de tal cruzamento, acabou por redundar em nenhum ovo viável.

Bola. Nada. Niente.

E com Guadalupe, uma morena com carapaça violão, uma latina bem quente que já achava bem mais aprazível, novo falhanço numa segunda tentativa. 5 Disparos. Todos com pólvora seca.

Alerta, alerta! O sinal vermelho de alarme soou então na cabeça do até aí impassível George.

Agora já não era tanto uma questão de querer ou não querer. Parecia que não conseguia. E para ele passara a ser uma questão de honra. Via-se realmente sozinho.
Ansioso e porventura pressionado, George volta-se para escapes fácil. Como um Dalton, passando por zonas bem pardas. Ou melhor, mesmo escuras.
Álcool, muito álcool. Jogo, estoirando balúrdios em corridas de cavalos marinhos. E para compor o ramalhete, muitos psicotrópicos e estimulantes, que não pelo contrário não lhe melhoraram a situação, acabando por o arrastar para uma espiral ainda mais depressiva. Que em última instância acabou por fazer ceder seu frágil coração.

No entanto, creio que esta não será a forma como George gostará de ser recordado. Creio que gostaria de passar à posteridade, visto não como um Dalton, mas sim como um Lucky Luck. Um Jorge Luck. Alguém que desaparece no horizonte, sozinho é certo, mas fiel aos seus princípios. Mesmo com todos os defeitos, com a consciência que sempre viveu de acordo com o que achava justo. Levando consigo toda a honra de uma subespécie. 


"(...)I'm a poor lonesome cowboy
But it doesn't bother me
'Cause this poor lonesome cowboy
Prefers a horse for company
Got nothing against women
But I wave them all goodbye
My horse and me keep riding
We don't like being tied(...)"

 







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